Queda na cratera
Gente sem caráter mancha nome de Juliana e culpa governo por sua morte
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Pensei muito antes de escrever isso, mas é necessário sermos diretos. O caso da jovem Juliana, que caiu na cratera de um vulcão na Indonésia, comoveu o país, e com razão. No entanto, o que se vê nas redes sociais e em certos discursos públicos vai além da solidariedade. Entra em um território perigoso: o da exploração política rasteira e da total ausência de caráter.
Há quem esteja cobrando do governo brasileiro uma ação que não lhe cabe nem legal nem logisticamente. Como se o presidente Lula devesse, pessoalmente, liderar uma operação de resgate em solo estrangeiro. Isso não é apenas um absurdo, é uma afronta ao bom senso e às normas elementares do direito internacional.
Vamos aos fatos: o acidente aconteceu em território indonésio. Logo, a responsabilidade primária pelo resgate é do governo da Indonésia. Ao Brasil, cabe exatamente o que vem sendo feito: acionar as autoridades locais, oferecer apoio técnico, pressionar por respostas e acompanhar a situação por meio do Itamaraty. Exigir que o Brasil envie equipes, tropas ou helicópteros sem autorização do país anfitrião é ignorar a soberania de outra nação e desconhecer completamente o funcionamento das relações diplomáticas.
O que estamos vendo, infelizmente, é mais um uso oportunista da tragédia alheia como munição política. As críticas, na maioria desses casos, não nascem de uma genuína preocupação com a vida da jovem, mas sim da ânsia por likes, polêmicas e ataques ao governo federal. A empatia dá lugar à lacração vazia, e isso diz mais sobre o caráter de quem critica do que sobre a atuação de quem é criticado.
É legítimo cobrar agilidade, transparência e assistência consular. É dever do Estado proteger seus cidadãos no exterior. Mas há uma diferença fundamental entre exercer esse direito e se render ao populismo barato. O governo brasileiro não falhou em sua função diplomática. Quem está falhando são aqueles que, em vez de contribuir, transformam a dor em palanque. E isso, sim, é vergonhoso.
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Rafaela Lopes, colaboradora do Café Literário, eventualmente escreve textos para outras editorias de Notibras