Manifestações religiosas
Corpus Christi e a fé que não pega férias
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As ruas foram cobertas de flores, sal e desenhos efêmeros. O povo caminhou sobre arte. Mas o que era belo também carregava um peso: o desejo de transcendência. Corpus Christi no Brasil não é apenas rito: é performance, resistência e memória coletiva.
Victor Turner nos ensinou que os rituais são momentos de liminaridade espaços-tempo onde tudo pode ser ressignificado. E ali, entre a fé e a festa, o povo reconstrói sua dor. A procissão não é só caminhada, é travessia de um Brasil partido. A religião, como disse Durkheim, é um fato social total que conecta o corpo ao sagrado e o povo ao símbolo.
Nas periferias, o feriado foi pão repartido. No interior, foi esperança bordada. A religiosidade popular, invisível nas teses acadêmicas que adoram Paris, é o que mantém o Brasil de pé. Fé é sobrevivência. E Corpus Christi é um altar coletivo de um país que ainda crê.
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Emanuelle Nascimento, colaboradora permanente do Café Literário, também escreve textos pontuais para outras editorias de Notibras