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O fogo e a fome

O calor como marca social que mostra o descaso de um país

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Autor/Imagem:
Emanuelle Nascimento - Foto Francisco Filipino

O termômetro não mede apenas graus Celsius; mede desigualdade, mede abandono. Quando o Nordeste e o Norte do Brasil registram temperaturas superiores a 40ºC, o que se está aquecendo não é apenas o solo ressecado, mas a tensão social que não encontra alento.

Durkheim talvez diria que o calor excessivo afeta a coesão social, e, com razão. No sertão abrasado, não há refresco para a pobreza.

A Antropologia da Natureza, tão bem trabalhada por Philippe Descola, poderia explicar que o calor não é apenas um fenômeno natural, mas um construto atravessado pelas estruturas de poder. Os pobres têm calor diferente dos ricos.

Nas favelas e comunidades, as coberturas de amianto, as casas de barro ou improviso concentram mais calor que qualquer praia do Leblon.

O clima extremo denuncia uma antropologia da indiferença estatal. As políticas públicas são geladas, enquanto a terra arde. E a terra arde junto com os corpos esquecidos.

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