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Confidentes

Lúcia e Eduarda, duas Marias, esquecem dores da vida em longas conversas

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Eram duas Marias sem qualquer parentesco além daqueles que a vida lhes trouxe, sendo tais laços muitas vezes mais acentuados do que os de sangue. E os delas, certamente, faziam jus a tal pensamento.

Mal se viam, pois cada uma morava em uma cidade. Enquanto Maria Lúcia residia em Luziânia, Maria Eduarda passava seus dias em Brasília, não vendo a hora de se aposentar para retornar à terra natal, João Pessoa.

As mulheres trocavam confidências e, assim, iam driblando as agruras que surgiam pelos caminhos tortuosos. Maria Lúcia, a mais resignada, não raro, causava espanto na amiga.

— Não sei como você consegue entender a vida, mesmo quando a vida é tão dura com você.

— Sabe, Maria Eduarda, eu procuro compensar uma coisa pela outra. Você bem sabe que a minha história é deveras carregada, mas eu me apego nas coisas pequeninas.

— Mesmo assim, minha irmã, não me entra na cabeça como é que você pode receber tanta pancada e sorrir.

— É que tenho uma maneira diferente de ver a felicidade e, em muitas coisas, consigo ser feliz, mesmo dentro da tempestade.

— Ah, amiga, eu não aguentaria nem a metade do que você sofre.

— É que vejo pelo lado mais doce. Sei que tem muitas pessoas que me amam e torcem por mim. E isso, pra mim, faz com que a vida seja colorida.

Maria Lúcia, que fora abandonada pela mãe entre os três e quatro anos de idade, logo cedo foi forçada a reverter as coisas ruins em não tão ruins e, em alguns casos, até boas. Aprendeu que a gente perde aqui e ganha ali, mesmo que não tenha nem sequer uma migalha de leveza nessa história.

— Sabe, Maria Eduarda, nada dura pra sempre. Sei que a tristeza vem e pode durar um tempo, mas ela não permanece para sempre, mesmo que a lembrança não nos deixe esquecê-la.

Maria Lúcia não se imaginava fortaleza, conhecia suas fragilidades. Ia tocando o barco até ele despencar em uma cachoeira e fosse consumida para sempre. Todavia, enquanto estivesse dentro dele, sabia que era preciso remar, uma hora contra; outra, a favor da correnteza.

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Eduardo Martínez é autor do livro 57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’

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