Barreira da polarização
Brasil e Brics vivem entre a diplomacia multipolar e a autonomia do Sul Global
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Na 17ª Cúpula dos BRICS realizada no Rio de Janeiro, o Brasil se apresenta não apenas como anfitrião, mas como um articulador de uma nova ordem mundial em construção. A ausência de Xi Jinping e Vladimir Putin, representados por suas respectivas diplomacias, não diminuiu o peso simbólico do evento. Pelo contrário: o encontro reafirma o desejo de uma multipolaridade prudente e pragmática.
Immanuel Wallerstein, em sua teoria dos sistemas-mundo, nos lembra que as periferias também são agentes. O Sul global não quer apenas resistir à hegemonia do Norte, mas propor alternativas viáveis. Nesse sentido, o Brasil de 2025, liderado por um governo que mescla pragmatismo diplomático e nostalgia terceiro-mundista, parece encarnar a missão de reposicionar o país como ponte entre blocos.
A Antropologia da Política, por sua vez, observa o BRICS como um ritual diplomático de performatividade internacional. Claude Lévi-Strauss diria que esses encontros operam como “mitos modernos”, nos quais os países constroem narrativas de pertença e liderança.
Ao evitar pautas polarizadoras como a guerra no Oriente Médio ou a ofensiva russa na Ucrânia, a cúpula no Rio reforça a inteligência diplomática brasileira: preservar alianças, manter neutralidade estratégica e ampliar o diálogo Sul-Sul. Uma multipolaridade que, como diria Achille Mbembe, seja também uma polifonia de epistemes.