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O SILÊNCIO E O VAZIO

A assustadora realidade que atinge a todos nós

Publicado

Autor/Imagem:
Giba Motta - Texto e foto

“[…] sem essa aranha… sem essa aranha…sem essa aranha, nem a sanha arranha o carro, nemo sarro arranha a Espanha.”
(Qualquer coisa, Caetano Veloso)

Para além de modismos e apropriações, navegando pelos livros e tratados e páginas e sites nas redes, o som do silêncio no vazio permanece em boa parte um mistério para a humanidade.

Uma filosofia/doutrina amorosa que é-, por sua própria natureza e definição incomensurável e intransmissível, uma postura sem rótulo, fé que não se explica, escapa à linguagem, desmonta por completo nosso mecanismo nacionalizante e limitado Na verdade, o único que a maioria de nós conhece.

Somos avessos a contrastes desafiadores como o silêncio. Assustadora realidade.

Estamos tão aferrados a nós mesmos que fica difícil alcançarmos a beleza luminosa e despida do jeito de viver no silêncio e no vazio; mas nada nos impede de apreciá-los. O som é lindo, mas o silêncio e o vazio são infinitos. O sagrado e o divino, em suas múltiplas formas e interpretações, estão presentes ali.

Na construção do infinito particular e o limitado arranjo coletivo habita o silêncio.

A unidade configura o vazio.

Para a aranha macho apaixonado é importante ter o ritmo exato do silêncio e da música/som. Deve fazer mesmo “tlang tleng” e não, por exemplo, “tlong tlong”. Tudo ali é uma questão de detalhes. Basta a menor ameaça de vibração diferente para que a bela aranha, em vez de se virar sorrindo para o futuro namorado, pule em cima dele e o devore num instante: Zás!

É isto mesmo.

O fato é que o “tlong tlong” para uma aranha faminta, quer dizer exatamente isto:

“Sou uma mosca apetitosa e caí na armadilha, devore-me logo”.
Contudo, fora estes tristes desastres e equívocos, de alguma forma também as aranhas conseguiam se comunicar entre elas antes pelo silêncio no vazio natural e procriar a existência, a vida.

Entre o silêncio e ação vem antes o vazio e depois os sons.

Emaranhado da seiva, estalos de galhos secos retorcidos, veredas em abraços explícitos.

Veias internas bombeando vias-fluxos, caminhos surrados, destinos dependurados em teias.

A vida fingindo inexistente antes no silêncio, passado o vazio ali presente.

Pulsante.

Intrincado mosaico no emaranhado parido na fusão entre o silêncio, o vazio e os sons do viver.

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*Gilberto Motta: escritor, jornalista, professor universitário e vídeo-documentarista. Músico de nascença apenas para espantar o vazio do silêncio. Mora e escreve na pequena comunidade de pescadores da Guarda do Embaú SC.

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