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'ECT não se vende'

Fabiano deve trocar carta de demissão nos Correios por uma que fale de compromisso

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José Seabra - Foto Produção Irene Araújo/IA

Há destinos que não permitem silêncio. Há cargos que exigem voz. Não aquela que ecoa nos salões do poder, mas a que ressoa nas vielas, nas agências do interior, nas mãos calejadas dos carteiros que cruzam o Brasil com sol na cabeça e esperança na mochila.

Fabiano Silva dos Santos, o homem que comanda a empresa que ensinou o Brasil a se comunicar por cartas, telegramas, encomendas e promessas, acena em abandonar o timão da ECT sem jamais ter lançado uma mensagem clara à população. Como o comandante que, diante das primeiras ondas, cogita deixar o navio, mesmo sabendo que o barco não é dele, mas do povo.

Você chegou à presidência dos Correios com o selo do Grupo Prerrogativas e o carimbo da esperança progressista. Mas o tempo passou e a carta que dele se esperava jamais foi escrita. Nem um bilhete. Nem uma linha ao povo brasileiro que ainda vê nos Correios um símbolo de Estado, de presença, de confiança.

Você, Fabiano, apenas esqueceu o essencial, que é falar com o cidadão comum. Mostrar que os Correios são fortes, estratégicos, insubstituíveis. E que podem, sim, competir de igual para igual com qualquer gigante logístico, desde que tenham liderança com coragem e voz.

A instituição que já selou amores, levou notícias de guerra e de paz, conectou sertões ao litoral e encurtou distâncias continentais, hoje vive a silenciosa batalha do esquecimento. E no vácuo de comunicação, cresce o coro dos que sonham com a privatização, esses que torcem para que a estatal encolha de importância e valor até caber numa planilha de Excel.

Há forças, sabemos, que não dormem. Grupos que farejam privatizações como abutres sobre um corpo desacordado. E é por isso que não se espera de Fabiano que desça do barco, mas que segure firme o leme. Não se espera que jogue a toalha, mas que a transforme em bandeira; se a tempestade política sopra forte, que ele vista o impermeável da coragem e grite do convés: “Aqui não! Os Correios não estão à venda!”

É grave, Fabiano. Porque quando o carteiro se cala, outros tomam a palavra, e nem sempre são mensageiros da verdade. Há predadores à espreita, tentando transformar uma empresa pública em ativo especulativo. Gente que não entrega correspondência, mas apenas lucros. Gente que não conecta cidades e, ao contrário, desconecta direitos.

Não se espera de você, presidente, que baixe a cabeça. Espera-se que suba ao mastro, que empunhe o megafone e diga em alto e bom tom que os Correios não são mercadoria. São missão de Estado. Porque o Brasil precisa de líderes que resistam, não de gestores que se despedem com um aceno tímido. Você precisa entender que, à frente dos Correios, não é apenas um nome técnico ou um advogado de toga progressista. É a voz de uma instituição centenária; é o mensageiro da confiança nacional.

Bem sabemos que há tempestade, há pressões. Mas o bom marinheiro não rema para a praia quando o céu fecha. Valente,  ele finca o pé no convés e encara a tormenta.

A ECT é mais que uma empresa. É a memória viva de um Brasil que ainda acredita na carta escrita à mão, no aviso de chegada, no selo que cola histórias ao destino. E você, Fabiano, pode ser lembrado como o presidente que transformou uma simples gestão num manifesto. Ou como o homem que, com medo das ondas, deixou que afundassem o navio.

Se for para sair, que saia lutando. Se for para ficar, que fique com a espada da palavra e a armadura da verdade, de cabeça erguida, com a convicção de que a verdadeira comunicação começa pela presença, pela palavra, pelo enfrentamento. Porque a maior carta que um presidente dos Correios pode assinar não é a de renúncia. É a de compromisso com o Brasil.

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José Seabra é diretor da Sucursal Regional Nordeste de Notibras

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