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Virtude inexistente

No reino da política animal, o corvo Bolsonaro vai acabar como o patinho feio

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Messias que nunca foi redentor, tampouco enviado por Deus para estabelecer uma nova ordem de paz, justiça e liberdade, Jair Bolsonaro chegou ao topo do poder como um touro indomável, um corvo de maus presságios. Agindo como uma aranha armadeira, por longo tempo permitiu que os porcos “patriotas” chafurdassem no lodaçal chamado Congresso Nacional. Tão perigoso como um formigueiro de saúvas, o Parlamento que ele endeusou produziu pelo menos meia dúzia de raposas do deserto, as quais foram responsáveis por bancar suas presas caninanas durante os quatro anos em que se apresentou como o tocador de apitos do Cerrado.

Como inquilino do Palácio do Planalto destilou peçonha para todos os lados. A exemplo das cobras mais perigosas, tentou sorrateiramente inocular veneno em seus adversários, mas errou o bote final. Deixou o poder pela porta dos fundos. Hoje, mesmo fingindo ser um cordeiro, não consegue mais esconder de suas viúvas negras os abraços do tipo tamanduá. Ele se faz de mouco, mas negar o óbvio é tão feio como atribuir a si mesmo uma virtude inexistente. É pior do que se anunciar como imbrochável e arriar os quatro pneus na hora da verdade. É o que tem feito o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Pego com a língua de camaleão na frigideira, a boca de cururu na botija, os dedos de morcego no telefone direto com a Casa Branca e as mãos de um macaco prego no pescoço dos democratas, ele jura com a veemência dos grandes mentirosos que não são suas as principais digitais encontradas em toda a produção e execução do fracassado golpe contra Luiz Inácio e, agora, na bestial proposta do governo norte-americano em sobretaxar em 50% todas as exportações brasileiras. Não sei se Bolsonaro entende o chamado óbvio ululante, mas negá-lo não é loucura, mas sim falta de vergonha, na medida em que se trata da verdade mais difícil de enxergar.

Arrogante, ignorante, preconceituoso, machista e virulento, o mito de coisa alguma se associou – e se associa – ao que há de pior no mundo. Dizer que não é golpista e que nada tem a ver com o tarifaço imposto por Donald Trump aos brasileiros é mentir para si mesmo. É negar que o objetivo final era aproveitar a Festa de Santo Reis e levar até os bodes. Ele e os seus não levaram. Sobraram para os fariseus de gaiola e para o leão desdentado da Metro-Goldwyn-Mayer a futura jaula e os empombados carcarás com a dita dura e loucos pelas carcaças dos carniceiros sem rumo e sem os dentes afiados do poder.

E não levaram porque os bodes berraram, os tambores rufaram mais alto do que de costume, os ratos se esconderam no silêncio dos bueiros de Brasília, o gado aloprou no curral, as rolas sumiram do varal, o pinto caiu, o gato subiu no telhado e o sapo barbudo emergiu como um tubarão no cio. E se Jair Bolsonaro fosse hoje um poste ou uma árvore de tronco fino? Certamente veríamos filas quilométricas de cachorros em ambos, pois os cães gostam de marcar os lugares por onde passam ou as pessoas que um dia lhe fizeram mal. Além do marco territorial, o xixi dos pets também serve para repasse de várias outras informações. Uma delas pode ser a de que o cidadão deixou de ser bem-vindo na praça.

Nesse caso, eu diria que os cachorros urinariam no útil e no agradável. Por falar em pets, os brasileiros apostarão novamente em um de raça, porque um vira-lata nós já tivemos e só fez o que o gato enterra no cercadinho onde o gado pregava fanatismo vazio e invejava os que, por razões óbvias, sempre entenderam que a idolatria política leva o ser humano ao estado terminal de consciência. Com dizem que, quando a perereca é boa, o sapo sempre volta, o sapo barbudo está disposto a matar um leão por dia. Quanto ao Messias, ele hoje mais parece um bufão, um bezerro desmamado. Para quem chegou como um touro indomável, Bolsonaro deixará a vida pública como um patinho feio.

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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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