ROUND 7: O DESAFIO MORTAL DOS DEUSES-ASTRONAUTAS (EPÍLOGO)
OS VENCEDORES FINAIS E A DISTÓPICA REVELAÇÃO DO LÍDER SUPREMO
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Depois de um silêncio que parecia ter durado uma eternidade para os quatro vencedores do jogo, o líder-supremo finalmente começou a falar com uma voz que parecia saída diretamente de Star Wars:
-Jogadores, vocês são os campeões do Desafio do Heptágono, orgulhem-se disso para o restante das suas vidas. Naturalmente, vocês devem estar curiosos para saber tudo sobre o que acabaram de vivenciar, não é mesmo?
Bem, mas antes de explicarmos o que é possível explicar e o que a compreensão de vocês pode alcançar nesse momento, eu os convido para celebramos o fim do jogo com um brinde à merecida vitória dos quatro.
A seguir, o líder-beta abriu um litro de champanhe e começou a servir as taças que estavam na mesa em frente aos jogadores. Depois, serviu o líder-supremo, o líder-alpha e, por fim, a si mesmo.
-Jogadores, saúde e vida longa para todos, falou o líder-supremo, erguendo a sua taça.
Aceitando a cortesia, apesar de desconfiados, os quatro jogadores acompanharam o brinde sorvendo a bebida oferecida.
-Bem, agora vamos a nossa conversação. Acho mais produtivo que vocês mesmos externem as suas dúvidas.
A fim de manter a escrita, vamos começar por ordem decrescente, mas solicito que cada um de vocês faça no máximo duas perguntas para que todos tenham chance de falar. Jogador 456, comecemos por você, convidou o líder-supremo.
-Bem, eu realmente quero muito saber quem são vocês e porque promoveram uma competição tão cruel em que centenas de pessoas tiveram que morrer, falou Eduardo, com a voz embargada.
-Muito bem, 456! Como eu observei antes, nós vamos explicar o que é possível e o que a percepção mental de vocês alcança no momento. Nós não somos como vocês em muitas coisas, temos origens, cultura, objetivos e compreensão de vida e morte diferentes. Já estivemos por aqui há cinco milênios, quando os antepassados de vocês ainda viviam em bandos errantes e se alimentavam de frutas silvestres, raízes e carne crua.
Observando o espanto na expressão dos quatro jogadores, o líder supremo fez uma pausa, continuando a explanação tão logo tomou mais um gole de champanha.
-Deixamos as nossas marcas em locais que vocês hoje chamam de Egito, México, Mesopotâmia, Ilha de Páscoa e outras regiões desse planeta. Nosso habitat original dista muitas galáxias daqui e, vocês, já nos chamaram de vários nomes: Deuses-Astronautas, Eternos, Celestiais, Titãs, entre outros.
Quanto à natureza da nossa competição, avaliamos que os vencedores tinham que passar por essa experiência para merecer o prêmio que vocês estão recebendo, todavia, quando vocês já tiverem retornado ao seu ambiente natural, eu garanto que vocês não vão achar isso tudo tão cruel, finalizou o líder-supremo.
Perplexos, os jogadores só conseguiam murmurar interjeições:
-Tá de brincadeira…
-Que loco!
-Eu, hein!!!
Apenas Akira preferiu ficar em completo silêncio.
-Jogadora 226, sua vez, incentivou o líder-alpha.
Ainda impactada com as palavras que acabara de ouvir e sem saber bem o que pensar, Cristina falou:
-Não sei se vocês estão falando sério, mas quero saber porque exatamente nós e os outros jogadores foram os escolhidos para essa competição de vocês…e também, como viemos parar aqui? Por que não lembramos de nada depois que apagamos no avião?
-Obrigado pela pergunta, jogadora 226! Nós temos uma compreensão diferente, mas similar ao que os humanos chamam de vontade divina, destino, causalidade, desígnio superiores e outros termos que vocês utilizam. Nós chamamos isso de algoritmo cósmico. Foi esse selecionador que trouxe todos os jogadores da competição para essa ilha. Em essência, entendemos que tudo na existência é um jogo imprevisível dirigido por essa energia e que, às vezes, também é afetado pelo mérito pessoal.
Sobre a outra questão que você mencionou, preferimos não falar no momento porque foge à atual percepção de vocês.
Desta vez, todos os jogadores preferiram ficar em silêncio.
-Jogador 135, pode falar, sugeriu o líder-beta.
Extasiado, Charlie, tentou coordenar os pensamentos como podia:
-Supondo que tudo isso seja verdade, quais seriam as habilidades e capacidades que receberemos…e por que vocês estão nos dando isso?
-Ótima pergunta, 135! Começando pela última interrogação, como eu já disse, vocês foram trazidos para cá pela ação do algoritmo cósmico e venceram a competição por impulso dessa energia, isso conjugado, é claro, com os méritos pessoais de vocês. Então, segundo o algoritmo, são os indivíduos certos para conduzirem, se assim sedejarem, uma necessária mudança de curso nos rumos da história da humanidade.
Creio que vocês já tem ideia de que, com raras exceções, da forma como os atuais detentores do poder mundial estão conduzindo o planeta, logo esse pequeno mundo estará pronto para experimentar em definitivo conquistas maléficas, guerra, fome e morte. Dois daqueles que alguém chamou de “os quatro cavaleiros do apocalipse” já estão instalados nos seus tronos no Oriente Médio e na América e, de mãos dadas, aceleram cada vez mais a sua delirante atividade destrutiva.
Charles, aflito, interrompeu o líder e questionou:
-Mas o que podemos fazer sobre isso? E de que forma?
-Vocês quatro receberão um dom que a nossa raça já possui desde tempos imemoriais: aprender a usar 100% da sua capacidade mental. Assim, poderão ler pensamentos, comandar mentes, discernir intenções, iluminar raciocínios e outras habilidades físicas e mentais sobre-humanas. Dessa forma, estarão aptos, se assim desejarem, a mudar o quase inevitável e próximo fim da vida nesse planeta.
Tomados por um torpor paralisante, os vencedores do jogo mal conseguiam raciocinar na tentativa de absorver tudo o que haviam escutado.
-Jogadora 34, algo a dizer? Questionou o líder-alpha.
Akira apenas balançou a cabeça, negativamente. Todavia, em seguida, perguntou:
-Quando receberemos as nossas capacidades especiais?
Em resposta, o líder-alpha falou:
-Bem, agora vocês já sabem que o dinheiro foi apenas um artifício para atrair os jogadores para a competição, mas vocês tem direito a ele. Aqui estão os cartões bancários com o crédito devido, usem como desejarem.
Sobre a sua pergunta, que é o que realmente importa, vocês já receberam o dom que explicamos desde que tomaram a champanhe no início da nossa confabulação. Vão começar a sentir o efeito e dominar as suas novas capacidades assim que voltarem para o seu mundo natural.
De uma forma solene, o líder-supremo levantou-se e falou:
-Jogadores vencedores, isso é tudo o que podemos dizer a vocês. O jogo e a nossa breve convivência acabaram.
O futuro a vocês pertence, da forma que decidirem e de acordo com a conjugação dos algoritmos. Boa sorte para vocês e para o seu mundo!
Em seguida, os outros dois líderes também se levantaram e, juntamente com o líder supremo, deram as costas e retiraram-se da sala.
Antes que algum jogador falasse algo, um brilho intenso os cegou e, quase simultaneamente, tudo escureceu.
Acordados pelo baque do avião tocando o solo, os passageiros do voo 777 acordaram quase que ao mesmo tempo.
Sobressaltados, Guilherme, Cristina e Charlie abriram os olhos perguntando-se onde estavam.
Guilherme foi o primeiro a falar,
-Amigos, tive um sonho estranhíssimo e para lá de real!
-Eu também, muito real e assustador, falou Charlie.
-Chicos, igual! Y me aterra lo que soñé!
Repentinamente, todos os passageiros e tripulantes receberam a mesma mensagem por whatsap:
“Prezados, houve um imprevisto e a competição foi adiada para data a ser futuramente definida. Aproveitem a semana na cidade. Foram reservadas acomodações em excelentes hotéis para todos (em anexo) e as passagens de retorno continuam válidas, assim como a ajuda de custo já depositada está mantida. Pedimos desculpas pelo imprevisto e desejamos boa estada a todos. Atenciosamente, Organizações Heptágono University.”
Conformadas exclamações por todo o avião lamentaram a mensagem, mas, ao mesmo tempo, saudaram a semana de férias na Austrália com tudo pago.
Indiferentes à mensagem recebida, os três amigos começaram a ter sensações inusitadas.
-Gente, o que é isso? Estou me sentindo diferente, vocês também não estão? Perguntou Charlie, confuso e, ao mesmo tempo, clarividente.
-Verdade, estou sim! Minha mente parece que está mais potente e clarividente, falou Guilherme.
-Dios mío, nunca me he sentido tan poderosa, exclamou Cristina.
Após o desembarque, eles avistaram Akira em meio aos outros passageiros. Mais confusos do que nunca, viram a colega de competição caminhar em direção a eles.
Quase ao mesmo tempo, todos pensaram: – Eu conheço essa moça!
Levando a mão ao bolso da camisa, Eduardo sentiu ali um envelope em forma de pentágono com um cartão bancário dentro. Lívido, ele segurou o cartão, perguntando aos amigos:
-Vocês também estão com um desses com a marca do pentágono?
-Sim! E tem uma senha no envelope, disse Charlie.
-Dos millones y quinientos mil euros, disse Cristina, em um impulso.
Já com Akira reunida a eles, os quatro jogadores, emocionados, recordaram simultaneamente a cena em que, juntos, lutaram pela vida, uma história que até há alguns minutos imaginavam ter sido apenas um sonho.
Compreendendo o seu novo estar no mundo, os parceiros novamente se deram as mãos e, depois, abraçaram-se, em um ato de fraternidade e de aceitação do que tinham vivenciado.
Sentados em uma cafeteria do aeroporto, os vencedores do Desafio do Heptágono confabularam longamente sobre tudo o que ocorreu, até que Guilherme falou:
-Companheiros, jamais entenderemos completamente tudo o que aconteceu, mas agora temos uma missão, não temos?
-Temos sim, e jamais seremos os mesmos de antes! Então, por onde começamos? Questionou Charlie.
-Si, si…allá en América, por supuesto!! Propôs imediatamente, Cristina,
Balançando a cabeça afirmativamente, Akira concordou.
Agora, eram muito mais do que amigos e sabiam que para sempre seria assim. Erguendo a sua xícara de café, Guilherme falou, emocionado:-Um brinde à Irmandade do Heptágono!
Fim