Tornozeleira impressa
Chorei, sorri, emoções vivi, na 6ª fatal para Bolsonaro
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No Brasil e no mundo, com raras exceções, as sextas-feiras são consagradas à esbórnia, à alegria incomensurável. As exceções ficam por conta do 13 do azar, da manhã em que a patroa acorda de calça jeans zipada ao contrário e da má sorte que, sem avisar e fantasiada de cana dura, bate à sua porta às seis horas da matina. Fora o toc toc da Polícia Federal, já vivi de todas um pouco. Entretanto, nunca na história deste país experimentei uma sexta-feira tão glamourosa como a última, dia 18 de julho, histórica data em que o ex-presidente Jair Bolsonaro começou a pagar pelos males causados ao país e à população brasileira.
Há divergências. Meia hora após o mito perceber que o Pavilhão Nacional jamais será azul, vermelho e branco, ouvi cidadãos de poucos neurônios desejando força ao mito, sob o argumento de que “um patriota não foge à luta”. A exemplo do pária do filho 03, ele não fugiu por absoluta falta de oportunidade. Só os que conversam com duendes não creem que a cama salpicada de rosas salmão fazia tempo estava pronta na Embaixada dos Estados Unidos. Ilações à parte, se engana quem diz que homem não chora. Eu choro.
Chorão confesso, na verdade estou chorando de alívio, de alegria e de paz desde a manhã de sexta-feira, dia em que o lobisomem se viu acuado pelos caçadores de vampiros. Lamentável, mas imagino que milhões de brasileiros tenham chorado muito pelo país e pouco por aquele que me fez – e ao Brasil – chorar rios de lágrimas assistindo ao naufrágio definitivo do “Titanic” denominado bolsonarismo. Em que pese a ausência consentida do mercenário político que alguns chamam de deputado federal, chorei de emoção e, se pudesse, pediria bis para chorar novamente.
Cheguei a me perguntar a razão do choro, pois sempre soube que rir é o melhor remédio para a felicidade incontida. Como há tempo para chorar e para sorrir, preferi chorar, pois sabia que ao redor do mundo muita gente comemorava o penúltimo capítulo do dramalhão em que se transformou a saga bolsonarista pelo poder. Para o último suspiro da série, prometo sorrir como as hienas fazem depois que comem o leão, espantam o hipopótamo e dedam o rinoceronte na frente da atônita bicharada. Se querem saber realmente o que eu senti, digo apenas que, se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi.
De frente para o fato, as emoções se repetindo e eu e os milhões de brasileiros esperando pelas mentiras da vez. E elas vieram. Cada uma pior do que a outra. Como alguém sério informaria sobre U$ 14 mil e R$ 8 mil em dinheiro vivo guardados em casa e sem declaração prévia? Seria para a feira da semana ou para bancar os convescotes iniciais na embaixada do Pato Donald? Quem sabe para financiar os ingressos diários do conspirador Huguinho à Casa Branca, onde ele, em conluio com os enviados do Mickey e do Pateta, trama contra a própria pátria. Isso porque ele faz parte da maior tropa de patriotas que o Brasil já teve.
O pior ainda estava por vir. Embora esteja sob sigilo, parece que no pen drive “plantado” pela Polícia Federal no banheiro de Jair Bolsonaro há coisas que até Donald Trump duvidaria. Além da discografia completa de Zezé Di Camargo e Luciano e de uma completa rota de fuga pelos túneis da Esplanada dos Ministérios, a engenhoca continha nudez de Lula, fotos de Alexandre de Moraes aparando as madeixas, lista com telefones de todas as embaixadas acreditadas em Brasília e os contatos do coiote Javier Milei, o tal que supostamente facilitaria a travessia do “mito” pela tríplice fronteira.
Enquanto aguardo o capítulo final, isto é, a capitulação do tenente pincel, recebo a informação de mais uma de suas temerárias bravatas. De fonte fidedigna, soube que, pouco antes de ser brindado com a tornozeleira, o enfurecido amigo dos amigos de tirania decidiu formalmente declinar do equipamento eletrônico. Do mesmo modo que ele jamais engoliu a urna eletrônica, só aceitou ser monitorado por Alexandre de Moraes depois que um policial jurou sobre a Bíblia que a tornozeleira era impressa. Portanto, estão aí as razões pelas quais, ao longo da sexta-feira, muitos me viram chorar, sorrindo.
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Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras