Curta nossa página


Irmãos siameses

Perdidos, deputados que defendem clã Bolsonaro sabem que navalha se aproxima do pescoço

Publicado

Autor/Imagem:
Arimathéia Martins - Foto Edioria de Artes/IA

Com o roscofe na mão por causa das eleições de 2026, a renca bolsonarista na Câmara e no Senado tem dito que as reuniões quase diárias entre eles são organizadas exclusivamente para defender o ex-presidente Jair Bolsonaro. Na versão das excelências que se acham mais inteligentes do que todos os brasileiros, nada tem a ver com Donald Trump. Nessa altura do campeonato, caras pálidas, não há mais como separar o joio do trigo, o déspota norte-americano do aprendiz brasileiro de tirania, tampouco a aranha caranguejeira da teia venenosa. Apostar apenas na inocência de Bolsonaro e no tarifaço como moeda de troca é dar um tiro no pé.

Tal qual irmãos siameses, Jair e Trump estão até a alma vinculados pelo mesmo Tonho, de onde sai o monturo de cagadas contra a população que nada tem a ver com a sede de poder de ambos. Fantoche do pai e do presidente dos Estados Unidos, o deputado Eduardo Bolsonaro, mentor do tarifaço de Trump, está entre a cruz e a caldeira. Diria mais. Ele sabe que, após tudo de ruim que postou contra o Brasil nessas duas últimas semanas, se ficar perderá o mandato, o salário, o nome e provavelmente o futuro político. Se voltar, Alexandre de Moraes manda prendê-lo como em breve fará com o pai.

Enquanto pensa na melhor escolha, Eduardo tenta fugir do fio da navalha e afirma que não renunciará. Claro que não, porque, em assim fazendo, ele se autocondenará a uma longa inelegibilidade. Arrastando pelos corredores externos da Casa Branca as correntes que ele mesmo confeccionou, o ainda parlamentar se transformou em um abacaxi para a Câmara dos Deputados, principalmente para os deputados que pensam em reeleição. Deputados e senadores aliados devem estar imaginando o que fazer diante do tamanho do estrago produzido pela estulta obsessão bolsonarista. Nada, além de rezar muito e entender que o eleitor de 2026 não será igual ao de 2018, muito menos parecido com o de 2022.

Como disse recentemente um importante colunista brasileiro, Eduardo Bolsonaro permanecer atirando a esmo contra Lula da Silva e Alexandre de Moraes é o mesmo que continuar jogando terra nele mesmo. O problema é o buraco crescer e acabar levando para sete palmos todos os que insistem em manter a narrativa fake de que o Brasil de Luiz Inácio é uma tirania. Eles sabem quem é o tirano, mas faz parte do discurso de retaguarda se defender atirando contra alguém cujo crime foi ter democraticamente vencido a eleição. Fugindo do tarifaço como os vampiros da réstia de alho, os congressistas bolsonaristas não têm topado falar da intromissão norte-americana nas coisas do Brasil.

Visivelmente, todos tremem quando alguém pergunta de que lado eles ficarão. Fingindo atitudes voltadas para o senso humanitário, para a maioria o melhor a fazer é defender Bolsonaro longe de Trump. Repito que não há como distinguir o diabo republicano do capetão descolorido. Ambos se utilizam de argumentos absurdamente mentirosos e infantis para sustentar uma decisão notoriamente prejudicial à pátria que os Bolsonaro dizem amar. Docilmente convencidos de que, apesar da série de crimes comprovados, Bolsonaro é perseguido pelo ministro Alexandre de Moraes, deputados e senadores precisam assumir uma versão menos enganadora e fantasiosa.

Como último ato, precisam se convencer de que cabe a eles postura e discursos equilibrados e responsáveis na defesa insana do verdadeiro culpado pelo calvário nacional. Não dá mais para viver de aparências. Ainda que alguns não admitam, o Brasil inteiro sabe de quem são as digitais postas no tarifaço de 50% contra as exportações brasileiras. A maioria também sabe que o tarifaço está umbilicalmente vinculado à obrigação de Alexandre de Moraes inocentar Jair Bolsonaro de seus crimes mais hediondos, entre eles a trama golpista. Não há hipótese disso. Por isso, senhores parlamentares, o dia 1º. de agosto está chegando. Ou construam um discurso unificado ou o Brasil, o governo, o Congresso Nacional, o agronegócio e todos nós teremos de plantar batatas para Donald Trump esmagá-las. Antes disso, que tal empurrarmos nele nossa melhor mandioca? Pensemos nisso enquanto temos tempo.

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2025 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.