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Veado campeiro

Grass deixa o verde do PV para virar salada mista no prato de Celina

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Autor/Imagem:
José Seabra- Foto Divulgação

Leandro Grass, que já foi verde de esperança e agora se pinta de vermelho por conveniência, decidiu enraizar de vez no canteiro do PT. Foi pelas mãos delicadas e firmes do jardineiro-mor, Lula da Silva, que Grass brotou como nova muda no pomar da estrela — regado com promessas, irrigado por ambições e adubado com o estrume da velha fé eleitoral. Isso se observa na imagem que chega às minhas mãos, aqui em Pernambuco.

Em 2022, o moço acreditou que, embalado pelo canto uníssono da Federação PV-PT-PCdoB, teria perfume suficiente para desbancar o rei do Buriti. Mas a verdade é que sentiu o pó vermelho do cerrado antes mesmo de subir no palanque. Ibaneis Rocha, aquele advogado de voz doce e mão pesada, reeleito sem piscar, atravessou a disputa como quem caminha do Lago Sul ao Jaburu, com GPS do Centrão e escolta de votos pragmáticos.

Grass, então, esperou a chuva passar. Recolheu-se no IPHAN, onde pôde treinar o olhar para monumentos tombados e planejar, entre um restauro e outro, o retorno triunfal em 2026. A filiação ao PT foi mais do que estratégia. Significa uma aposta alta na roleta da governança. Com Lula como padrinho e bandeiras progressistas como enfeite, acredita que será ungido pelo voto popular como herdeiro legítimo do trono brasiliense.

Mas — sempre há um mas — correligionários de raiz o aconselham a descer do salto e subir no chão. Porque no outro canto da arena, rugindo baixinho, já se aquieta Celina Leão. Vice-governadora com olhar de esfinge e garras de felina, foi escolhida por Ibaneis como sucessora natural. Tem nas mãos a benção do Centrão, no pescoço o colar evangélico de Damares Alves e nos ombros as palmas de Michelle Bolsonaro, Bia Kicis e afins.

Celina, embora Leão, gosta de saladas verdes — de preferência com fatias de carne tenra de um veado campeiro, servida ao ponto e sangrando levemente, como convém às feras treinadas em Brasília. E não é de hoje que seu apetite inclui vegetarianos ambiciosos e gramados recém-fertilizados com ideologia reciclada.

Leandro pode até sonhar com 2026, mas o Buriti, este velho tronco do poder local, não floresce com discursos bonitos nem com selfies ao lado de Lula. A seiva que corre por ali é feita de acordos no escuro, afagos no Centrão e cafuné nos bolsominions arrependidos.

A verdade, caro leitor, é que Brasília não é para amadores. E o cerrado — este, sim — só respeita quem sabe a hora de rosnar e de engolir o adversário com louvor. E se a grama crescer demais, pode acabar servindo apenas de cama para as feras que realmente mandam no Cerrado.

Enquanto Leandro Grass ajeita o broche do PT no paletó ainda com cheiro de PV, seus aliados mais antigos tentam explicar — com um sorriso constrangido — que tudo foi por amor à democracia. O problema é que em Brasília até o amor é triangulado via emenda de relator. Ele quer montar uma aliança “moderna”, com os setores culturais, os servidores, os ciclistas de aplicativo e até o pessoal da arte urbana. A ideia é colorir a cidade com esperanças e grafites. Mas, no fundo, o PT já sabe disso, a esperança vai apenas ficar como o verde do mato.

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José Seabra é diretor da Sucursal Regional Nordeste de Notibras

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