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Conto da Carochinha

Força da patada de um bumba-meu-boi jogará Cappelli na cova da Leoa

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Autor/Imagem:
José Seabra - Foto de Arquivo/Valter Campanato

Levado para o covil da politicagem por Flávio Dino, o jornalista, marqueteiro e interventor pró-tempore Ricardo Cappelli, é dono de uma ou outra virtude. Não fosse isso, não teria galgado, sabe-se lá a que preço, alguns cargos públicos desde que trocou o Rio de Janeiro pelo distante Maranhão. Não disponho de números, mas esses valores, inclusive morais, estão nas planilhas de prefeitos e ex-prefeitos maranhenses. Mas, vamos lá: esse rapaz carrega no lombo, um inexplicável rancor contra a expressão maior da solitária estrela vermelha. É um fardo de mágoas; um ranço que exala odor acre de bolor. E como um verdadeiro representante do nefasto Gabinete do Ódio criado em tempos recentes, será jogado na cova da leoa, vítima de potentes patadas de bumba-meu-boi lá de São Luís.

Articulado dentro da sua legenda – o PSB, também conhecido como cabide de empregos estruturado por Geraldo Alckmin para abrigar socialistas em apuros – Cappelli está criando, para ser servido aos seus adversários, um cardápio com a corrupção que frutificou quando seu correligionário Rodrigo Rollemberg ocupou o Palácio do Buriti. E lá vem ele, agora como um visionário malsucedido que vive nas nuvens, procurar, com a pompa que não tem, um estilista capaz de confeccionar um terno que, ao menos a curto e médio prazos, não será usado para apossar-se da cadeira mais alta do Governo do Distrito Federal.

De notoriedade passageira, mais especificamente no período em que esteve como interventor na área da Segurança Pública da capital da República, Cappelli parece ter vestido o manto sagrado antes mesmo de ser canonizado. Dia desses, em uma de minhas raras idas a Brasília, ouvi de um interlocutor um relato hilário. O caso aconteceu na Pães e Vinhos, famoso café do Sudoeste. Na ocasião, o pró-tempore foi questionado sobre uma eventual disputa pela cadeira hoje ocupada por Ibaneis Rocha. A pergunta foi categórica: você é candidato?

Muito mais do que objetiva, a resposta foi surpreendente: “Não! Eu serei o próximo governador do Distrito Federal”. Mais perplexo do que satisfeito com o que acabara de ouvir, o curioso cidadão se limitou a parabenizar o governador eleito sem eleição. Soberba ou excesso de confiança? Nada disso. Apenas a elegante saída pela tangente e uma explícita confirmação de que, mesmo antes do início do espetáculo, ele sabe que será presa fácil para uma leoa faminta.

Inteligente como se supõe, a cria de Dino deve ter lido em alguma ocasião que a soberba faz o grão de areia pensar que é montanha. Ele também já deve ter ouvido alguém dizer que a altanadice precede a queda. Talvez ele não se recorde, mas, em qualquer eleição do mundo, a derrota começa a se desenhar quando o concorrente canta vitória bem antes da abertura das urnas.

Ex-número 2 de Flávio Dino no Ministério da Justiça, Cappelli foi nomeado por hoje seu desafeto Lula da Silva, interventor na Segurança Pública por ocasião dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Lideranças do PSB afirmam que a experiência, embora passageira, é a prova “de sua habilidade com desafios complexos e uma visão de desenvolvimento de longo prazo”. Será? A resposta veio com uma rápida enquete no próprio café. Alguém saberia quem é aquele senhor? Ninguém soube responder.

Portanto, Cappelli, que anda atirando pedras para todos os lados, está muito longe do eleitor -justamente quem decide uma eleição. Não bastasse a longa estrada que terá de percorrer, o ocupante de uma aba no chapéu de Alckmin, terá de enfrentar um inimigo feroz dos tempos de interventor. São as forças de segurança – policiais civis, militares e bombeiros, além do pessoal da PF -, que não irão perdoá-lo por, sem qualquer critério, fazer de Judas muita gente séria. É isso o que acontece com quem incendeia um vespeiro.

Esse texto, talvez até um pouco longo, vem a propósito da minha próxima ida a Brasília, que deve acontecer mais rápido do que uma viagem da Cidade Maravilhosa à ilha de José de Ribamar.

Por muito tempo, acreditei que o fundo do poço tinha piso. Bobagem minha. Todo ano eleitoral, mesmo os não-oficiais, aparece na capital uma britadeira nova e escava mais fundo. Agora, com 2026 ainda longe no calendário, já pipoca o que se diz salvador da cidade. Anda distribuindo vídeos nas redes sociais trajando paletó engomado ou camiseta justa. Ele desfila promessas como se fossem pão francês (não o da Pães e Vinhos). São alucinações baratas, vazias por dentro e murchando ao primeiro contato com a realidade.

Sou jornalista há 5 décadas e 5 anos – um pouco mais do que tem de vida o interventor pró-tempore. Tive nas mãos ofício de Araripe Macedo, mandando que a Folha de S.Paulo me demitisse – uma das muitas perseguições de que fui vitima do regime militar; ouvi ‘eu prendo e arrebento’ da boca de Figueiredo; vi Collor de calça de lycra, vi Lula com boné do MST e Bolsonaro com camiseta da CBF. Hoje, sou apenas um velho com tempo de sobra e ironia acumulada, assistindo, de camarote à beira-mar, onde escrevo uma ou outra crônica, à nova leva de aventureiros com diploma em marketing político e pós-graduação em “como enrolar o eleitor e sair impune”.

Eles não fazem campanha. Fazem “presença”. Não divulgam mentiras, “questionam narrativas”. Não antecipam disputa, apenas “defendem os valores da família”. E o povo, ah!, o povo… entre uma parcela anestesiada e outra distraída com vídeos de gato e receitas de airfryer, mal percebe que já está sendo feito de bobo — de novo.

O apadrinhado de Dino promete “gestão humanizada”, mas não sabe onde fica a Câmara Legislativa. O rapaz do sorriso photoshopado fala em “reconstruir Brasília”, mas não construiu nem a própria reputação. Tem ao seu lado um ex-governador que tenta ressuscitar das cinzas com discurso de moralidade e a ficha mais suja que banheiro de rodoviária.

O WhatsApp vira palanque, o Instagram é palhaço de circo, o TikTok é onde se dança sobre a miséria. E eu? Eu só assisto. Dou uma risada, rabisco uma frase azeda e espero o próximo milagre eleitoral – aquele em que o povo acorda antes de ser empurrado, mais uma vez, para o abismo.

Mas, como diz o porteiro aqui do condomínio, quem vive de esperança é posto de gasolina.

Post scripitum: o fato de ter virado desafeto de Lula, tem uma explicação. Com a ida de Dino para o Supremo, Cappelli desejava ser efetivado como ministro. Mas o presidente, usando da sua cota particular, chamou outro Ricardo – o Lewandowski -, que, convenhamos, é uma autoridade no assunto. Então, é melhor que o pró-tempore segure sua pomba.

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José Seabra é diretor da Sucursal Regional Nordeste de Notibras

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