Vamos levando
Grupos de WhatsApp: o purgatório digital
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Eu tenho quase certeza de que você participa ou já participou de um grupo de WhatsApp contra a sua vontade. Não adianta negar. Pode ser aquele grupo da família, onde a tia manda fake news às seis da manhã com a mesma confiança de quem manda “bom dia com café e bênçãos”. Pode ser o grupo do trabalho, onde todo mundo finge que ama a empresa, e o chefe manda figurinha motivacional às segundas-feiras. Ou ainda o grupo dos amigos da escola, onde ninguém se vê há 15 anos, mas jura que vai marcar um churrasco “logo, logo”.
Eu tenho certeza de que você também faz parte daquele grupo silencioso. Sabe? Aquele em que você entrou em 2019 e nunca, absolutamente nunca, disse uma palavra. Só observa. Só toma conhecimento. É quase um agente secreto: infiltrado, discreto, invisível. Mas está lá.
A verdade é que a gente até sairia desses grupos. Mas e a coragem? E o constrangimento? Como explicar que você não quer receber 58 mensagens de “Boa tarde, grupo” com florzinhas saltitantes e gifs de corações brilhantes? Como dizer que você não aguenta mais as enquetes sobre o sabor do bolo do aniversário da sobrinha da prima da cunhada?
Eu, por exemplo, participo de uns três grupos que, se eu saísse hoje, não faria a menor falta. Mas, se eu saísse, logo perceberiam. “Nossa, fulana saiu. Por quê?” Aí, já começa a fofoca, a análise comportamental, a CPI do grupo. Aí, complica.
Então, a gente segue. Silenciado, claro. Afinal, ninguém é de ferro. A vida já tem ruído demais pra lidar com notificação de grupo que pergunta quem vai levar os pratos descartáveis no piquenique de domingo.
Mas seguimos firmes. Em silêncio. Lendo tudo, respondendo nada. E com aquele pensamento recorrente: “um dia eu saio…”.