Curral errado
Como os produtos da Shopee, poucos congressistas servem para alguma coisa
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Recheado de pastores evangélicos e de representantes dessa ou daquela categoria, o atual Congresso Nacional parece uma igreja pentecostal, um campo de grãos de soja, uma plantação de mandioca, um curral, um batalhão militar, uma delegacia de polícia e até um recinto dedicado à saliência. Lembra qualquer coisa, menos casas de leis em defesa da soberania do país e da sociedade. Na verdade, com todo respeito aos eleitores, não lembra nada. Câmara e Senado estão fechadas na oposição ao governo cujo crime é não fazer o jogo mesquinho de alguns ou de todos os seus membros.
Ainda mais grave é a união de boa parte dos chamados congressistas no achincalhe àquele outro poder que deputados e senadores imaginam subalterno. Em qualquer democracia, isso seria considerado caso de polícia. Por aqui, rende votos dos “patriotas”, ameaçar magistrados sérios de impeachment, torcer contra a economia do país e, por consequência, ser oposição à população brasileira. Qualquer semelhança com o Congresso Nacional que parece ter sido eleito para apostar no caos não é mera coincidência. É o que temos e, infelizmente, é o que teremos até o último dia de 2026.
Entra ano e sai ano, o Congresso brasileiro é como um daqueles produtos oferecidos diariamente pela Havan e pela Shopee. A gente compra e percebe que não serve para nada apenas quando chega em casa. Exatamente como os deputados e senadores de ontem, de hoje e de sempre. O povo ouve suas cantilenas, vota, os elege e normalmente descobre que comprou gato por lebre somente após a posse. Tem sido assim a cada nova eleição.
A diferença é que, entre os ruins, há os amantes da maldade, aqueles que, em nome de uma ideologia tacanha e desconexa, não se envergonham de entregar o país à administração externa. Pior ainda são os que, à semelhança dos urubus, que são loucos por uma carniça, não conseguem pensar nada além de um projeto de lei ou de uma Proposta de Emenda à Constituição, a chamada PEC, que possa prejudicar quem os incomoda, particularmente o chefe de governo.
Incluindo os feriados, datas santas e a Quaresma, dia sim e outro também, após uma noite mal-dada, suas excelências acordam com a cabeça, os olhos e a alma voltados para um desses penduricalhos à Carta de 1988, rombudamente transformada em colcha de retalhos. Nada que incomode nossos briosos, valentes, sábios e destemidos homens públicos. Será? Não sei. O que sei é que, como baratas tontas, eles só trabalham pensando no próprio umbigo. Eis a razão pela qual querem eliminar os homens de toga que acham que parlamentar algum se sobrepõe às leis. Há quem ache o contrário.
Entre esses, alguns atingiram orgasmos múltiplos após as sanções de Donald Trump a Alexandre de Moraes. Tem bobo para tudo. Abrindo um parêntese histórico, a Constituição dos EUA tem 237 anos e somente 27 emendas. A brasileira, promulgada em outubro de 1988, ou seja, há 36 anos, conta com 128 remendos, cerca de 3,6 por ano. Não é nada, é falta de coisa melhor para se pensar em benefício do povo brasileiro. Portanto, senhores e senhoras parlamentares, antes de contribuir para a insolvência do Brasil e de se preocupar com a toga, vocês, se tiverem alguma coragem, aproveitem o ócio remunerado e apresentem projetos de lei contra a própria inoperância. O primeiro deles poderia ser o PL do sumário jubilamento dos homens públicos que não servem para nada. No Congresso, não ficaria um, meu irmão.
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Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras
