Dor alheia
Palpiteiro de doença crônica deve perder língua
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É exaustivo. Cansativo. Irritante. Viver com uma doença crônica, como a fibromialgia, já é uma batalha diária. Física, emocional e psicológica. E como se não bastasse conviver com os sintomas, os remédios e as limitações, ainda temos que aguentar o coro incessante das boas intenções: gente que, sem qualquer embasamento, insiste em nos dar dicas milagrosas, curas caseiras, receitas mágicas e promessas de cura que simplesmente não existem.
“Você já tentou chá de não sei o quê?”
“Eu li sobre um tratamento natural revolucionário”
“Fulano se curou com fé e jejum”
“Isso é emocional, sabia? Se você pensar positivo, melhora”
Não. Não é falta de pensamento positivo, não é preguiça, nem má vontade. Não é que a pessoa que convive com a dor todo santo dia esteja acomodada. O problema é que, infelizmente, ainda não existe cura. E essas sugestões “inocentes” não ajudam em nada. Muito pelo contrário, elas só servem para descredibilizar e silenciar quem está sofrendo. É uma forma cruel de invalidar uma vivência que já é dura o suficiente.
É como se o fato de você continuar doente significasse que não está se esforçando o bastante. Como se a culpa fosse sua por não ter testado aquele extrato milagroso vendido no WhatsApp por alguém sem formação alguma. Como se você tivesse escolhido sentir essas dores horríveis ao invés de ser uma realidade imposta pelo próprio corpo.
Esse tipo de “conselho” não ajuda. Machuca. Porque cria falsas esperanças, faz a pessoa se sentir insuficiente e transforma uma dor real em um problema imaginário.
É preciso parar de tratar doenças sérias com soluções simplistas. Ouvir mais os pacientes. Confiar na ciência. E, principalmente, respeitar a dor do outro. Porque quem vive uma doença crônica não precisa de palpite. Precisa de acolhimento, informação e empatia.
Não somos laboratório de experiências aleatórias. Não estamos pedindo milagres. Só que respeitem a nossa realidade sem tentar nos consertar com suposições vazias.