Bananas para Washington
Lula descarta se humilhar para Trump e vai discutir tarifaço com colegas do Brics
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Não faz muito tempo, o Brasil era visto, e por vezes se comportava, como uma republiqueta de bananeiras. Era o período em que vivia de costas para o mundo, de joelhos para os gringos e de olhos arregalados para qualquer promessa de salvação que viesse da Casa Branca. Mas os tempos mudaram. E Luiz Inácio Lula da Silva gritou da sacada do Planalto: acabou a palhaçada.
Em vez de se ajoelhar no milho diplomático oferecido por Donald Trump — ou por seus clones que ainda perambulam pelos bastidores de Washington — Lula meteu uma banana no correio, com selo presidencial e tudo, endereçada diretamente ao cabelo laranja. E não foi uma banana qualquer. Foi colhida de um cacho bem maduro, com casca manchada e gosto de desdém.
A razão? O tarifaço ianque. Cinquenta por cento de imposto sobre produtos brasileiros. Uma rasteira econômica que faria qualquer diplomata da velha guarda ligar para o Itamaraty com voz trêmula. Mas Lula, em vez disso, decidiu usar o telefone vermelho (ou seria rubro-bricsiano?) para falar com quem realmente interessa neste novo xadrez global: Modi, da Índia; Xi Jinping, da China; e, claro, o onipresente russo Vladimir Putin, que sempre aparece em qualquer reunião geopolítica como aquele primo sinistro que ninguém convida, mas todo mundo ouve.
“Vamos conversar entre iguais”, disse Lula, como quem joga fora o manual de submissão latino-americana escrito a quatro mãos por Chicago boys e embaixadores de terno bege. O Brics, agora com dez países no G20, não é mais um clube de fotos exóticas e declarações mornas. É um bicho grande, pesado, e com fome de protagonismo. E Lula, que já foi visto como operário, preso político, mito e meme, parece ter retomado o fôlego para tentar fazer o Brasil voltar a dançar no salão principal, deixando de ficar na copa, junto com os garçons.
Trump, se quiser, que chore seus dólares sobre a calçadeira de tarifas protecionistas. O Brasil não vai mais mendigar lugar à mesa. O jogo virou — ou pelo menos, essa é a narrativa que Lula quer imprimir entre um café com Xi e uma vodca com Putin. O tempo, sempre ele, dirá se essa banana lançada terá efeito bumerangue ou se, enfim, o Brasil aprendeu a escalar a bananeira sem cair no ridículo.
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Marta Nobre é Editora de Política de Notibras
