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Silêncio

Conectados e desconectados

Publicado

Autor/Imagem:
Luzia Couto - Foto Francisco Filipino

Era uma vez o tempo em que o silêncio tinha voz. Bastava sentar-se na calçada, olhar o céu cor de laranja do entardecer, e pronto: o coração encontrava descanso. Hoje, o silêncio virou desconforto. Se não houver um som, uma notificação, uma vibração no bolso parece que algo está errado.

Vivemos num mundo onde tudo está ao alcance de um toque, mas poucos toques são realmente profundos. As mensagens chegam rápidas, mas os sentimentos… esses demoram. Porque entre emojis e abreviações, o afeto se perdeu no algoritmo. Conversa virou “áudio de dois minutos”, abraço virou figurinha, saudade virou curtida.

Dizem que evoluímos. E é verdade. As casas falam, os carros estacionam sozinhos, as geladeiras mandam mensagens. Mas e o coração? Esse continua tropeçando nas mesmas solidões, só que agora cercado de Wi-Fi.

Há uma angústia nova que ninguém previu: a pressa. Tudo tem que ser pra ontem. A comida chega em quinze minutos, o filme é pulado até o final, o amor precisa responder em segundos senão “sumiu”. O tempo, que sempre foi rei, agora é escravo da ansiedade moderna.

Mas o que mais dói nessa modernidade não são os avanços, são os esquecimentos. Esquecemos de olhar nos olhos, de ouvir sem pressa, de caminhar sem destino. Esquecemos que viver é mais do que carregar o celular; é carregar a alma de sentido.

Talvez o desafio dos nossos dias seja exatamente esse: lembrar de ser humano num mundo cada vez mais automático. Lembrar que o amor não tem senha, que a amizade não se mede em “status online”, e que a felicidade, apesar de tudo, ainda mora nas coisas simples como um café quente, um abraço sem motivo ou um pôr do sol visto sem pressa, sem filtro, e sem precisar postar.

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