Pai da bomba
O dia em que Einstein chorou (porque gênios também jorram lágrimas)
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Contradições, genialidade, uma carta decisiva e o inevitável remorso.
O Dia da infâmia, 6 de agosto de 1945. Duas bombas atômicas dizimaram Hiroshima e Nagazaki, colocando o Japão de joelhos e o mundo imerso no horror.
Pessoas foram vaporizadas instantaneamente, deixando sombras gravadas em superfícies como pedras e paredes. Essas “sobras” humanas são resultado da radiação e do calor extremo que queimaram toda a matéria orgânica, enquanto o resto da área ficou levemente obscurecido, criando um contraste histórico na paisagem do mundo e nas almas da humanidade.
Passadas décadas estima-se que cerca de 200 mil pessoas morreram no segundo em que as bombas tocaram o solo das duas cidades. E milhares morreram depois devido a queimaduras e atingidas por destroços. Depois veio a radiação que causou doenças e morte em longo prazo. O câncer radioativo, como escreveu Drummond, “a rosa radioativa estúpida e inválida”. E os traumas psicológicos que marcam gerações até hoje.
A carta, o gênio e o inevitável remorso.
Mas e o Eisntein? A História confirma que era gênio e pacifista. No entanto, é considerado o pai da bomba atômica.
Albert Einstein, como milhares de judeus, fugiu para os Estados Unidos naquele ano de 1930. Entrou com honras em terras de Tio Sam, pois já havia ganhado um Prêmio Nobel em Física e formulado a Teoria da Relatividade. Mas e a carta ao presidente Franklin Delano Roosevelt?
Hitler assombrava o mundo. O nazismo parecia incontrolável. Enquanto a guerra se aproximava, Einstein, um pacifista de uma vida inteira, fez algo que inesperado: assinou uma carta ao presidente Roosevelt, avisando que os nazistas poderiam estar desenvolvendo armas nucleares. Ele sugeriu que aos Estados Unidos estocar minério de urânio e começar a trabalhar em suas próprias bombas atômicas. Na verdade, não foi Einstein quem escreveu a carta – isso foi trabalho do imigrante húngaro Leó Szilárd. E então surgiu o Projeto Manhattan que, seis anos depois (agosto de 19450), lançaria as duas bombas sobre o Japão.
Em 1947, Einstein atormentado pelo remorso, chorou duas lágrimas sinceras ao declarar em artigo à revista Newsweek que “se eu soubesse que os alemães não teriam sucesso em produzir uma bomba atômica, eu nunca levantaria um dedo neste sentido”.
Tarde demais.
A História já absolveu o genial cientista, porém, ao mundo ficou aquela enigmática foto de Einstein, já velhinho, com os cabelos alvoroçados e com a língua para fora. Foto emblemática de um mundo em desalinho, horrores pelo poder e de um profundo desprezo pela natureza humana.
Será que aprendemos algo?
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Gilberto Motta é escritor, pesquisador, jornalista e professor aposentado. Vive em uma pequena vila de pescadores na Guarda do Embaú SC e ainda tem pesadelos com cogumelos atômicos.