Capítulo esquecido do SUS traz à tona o sucateamento do setor

Em várias cidades do país, os CAPS estão em colapso: falta equipe, falta estrutura, falta verba. Mas sobra sofrimento. A reforma psiquiátrica, inspirada por Basaglia e moldada por autores como Paulo Amarante, corre risco de retrocesso. O manicômio muda de forma, mas nunca desaparece: se veste de clínica de luxo ou de prisão de pobres.

A esquizofrenia, o transtorno bipolar, a depressão grave todos seguem sendo tratados como problema do indivíduo, não do meio. Esquecemos que o sofrimento psíquico é relacional, cultural, histórico. A psiquiatria crítica nos diz: sem escuta, não há cuidado. E sem política pública, não há saúde mental universal.

O SUS é uma das maiores invenções democráticas do Brasil. Mas ele precisa ser defendido com a mesma paixão com que denunciamos seu sucateamento. A saúde mental não pode ser retórica de campanha precisa ser um pacto social.