Arte e ocultismo
Presença da magia alquímica nas naturezas mortas
Publicado
em
Imagine um mundo onde a arte e a ciência oculta se encontram, transformando o cotidiano em algo extraordinário. As naturezas mortas, com suas composições meticulosamente organizadas de frutas, flores e objetos, não são apenas um deleite para os olhos, mas também uma janela para os mistérios da alquimia. Muitas, provavelmente inspiradas pelos ensinamentos de Hermes Trismegistus, revelam uma dança sutil entre o visível e o invisível, o material e o espiritual. No coração dessa arte, cada elemento carrega um significado profundo, ecoando as antigas práticas alquímicas. Frutas em decomposição simbolizam transformação, flores efêmeras sugerem a fragilidade da vida, e objetos domésticos simples podem se tornar metáforas para os quatro elementos alquímicos que regem o universo.
Vamos observar além da superfície e mergulhar em uma narrativa rica de simbolismo e transformação. É como se cada pincelada nos guiasse em uma jornada de autodescoberta, onde o microcosmo de uma mesa de jantar se conecta ao macrocosmo das estrelas. Pronto para desvendar os segredos ocultos no aparente silêncio das naturezas mortas? Observe a figura da chamada do texto, é a obra “Vaidade com Violino e Bola de Vidro” de Pieter Claesz, rica em simbolismos e perfeita para uma análise alquímica. Claesz foi um dos mais importantes pintores de naturezas mortas do século XVII, ativo durante a chamada Era de Ouro Holandesa.
Era mestre em criar atmosferas realistas e introspectivas, usando paleta de cores sóbrias e explorando magistralmente a luz, as texturas e os reflexos. Suas obras frequentemente dialogam com temas filosóficos e existenciais, como a transitoriedade da vida, sugerida por elementos como crânios, frutas maduras e taças vazias. O violino, simboliza a harmonia e a música das esferas, um conceito alquímico que sugere a busca pela harmonia universal e pela ordem cósmica. Ele também pode representar a passagem do tempo, já que a música é efêmera. A bola de vidro reflete o espaço ao seu redor, simbolizando a introspecção e o microcosmo. Na alquimia, poderia representar a busca pela sabedoria interior e a compreensão do universo contido em cada indivíduo. Note como a bola de vidro reflete a cena, sugerindo que o mundo externo é um reflexo do interno. Vazia e tombada, como um corpo onde a vida se esvai. A fumaça de uma vela que se apaga, a luz que deixa a cena, simbolizando o ar. Talvez, o único elemento que sugere um movimento final de se esvanecer no espaço. A pena repousando sobre a mesa e objetos, não mais materializa pensamentos. Silenciada pela ausência de vida.
O crânio, tradicionalmente um símbolo de vaidade, representa a morte inevitável e a transitoriedade da vida. No contexto alquímico, pode ser visto como um lembrete da transformação necessária para alcançar a iluminação espiritual. A ampulheta representa o tempo passando, e a inevitabilidade do destino, aspectos centrais na filosofia alquímica que busca transcender o tempo através da transformação espiritual. Os livros, símbolos de conhecimento, poder e sabedoria, são fundamentais para o alquimista realizar a transformação e a criação da “pedra filosofal” interior. O uso dramático de luz e sombra, o Chiaroscuro , não só cria profundidade, mas também sugere a dualidade entre luz e trevas, vida e morte, um equilíbrio que a alquimia tenta harmonizar. Numa perspectiva distanciada, observamos que os elementos são dispostos de forma a criar um equilíbrio visual e simbólico, refletindo o princípio hermético de que tudo está em harmonia. Alguns críticos podem ver a obra simplesmente como um lembrete da mortalidade e dos prazeres efêmeros. Outros podem interpretar, alquimicamente, a obra como uma meditação visual desse eterno balançar sobre a transformação e a correspondência entre o microcosmo e o macrocosmo. De uma maneira ou de outra, as naturezas mortas são um lembrete da inevitabilidade da morte e a transitoriedade da vida. “Memento mori”, como diziam os povos latinos antigos.
………………..
Marco Mammoli é Mestre Conselheiro e Membro do conselho do Colégio dos Magos e Sacerdotisas.
Contato direto com o Colégio dos Magos e Sacerdotisas através da Bio, Direct e o Whatsapp: 81 997302139.