Sem esperneios
Admirável gado começa a se enquadrar à Era de Aquarius
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Dia 2 de setembro. Nesse dia, em 1822, dona Maria Leopoldina, reunida com o Conselho de Estado, assinou o decreto da Independência do Brasil. Na mesma data, em 1945, a Segunda Guerra Mundial chegou oficialmente ao fim, com a rendição formal do Japão. Dias importantes, dias marcados pelo fim de um amontoado de coisas ruins. Tudo indica que assim também deve ser o próximo dia 2 de setembro, quando o “Admirável gado novo” marchará até a sede do Supremo Tribunal Federal para assistir o início do definitivo fim da Era Jair Bolsonaro. Será o começo da Era de Aquarius.
E não adiantarão novos esperneios, pois a vigilância estará cuidando do novo normal. Vestidos para julgar, cinco dos 11 ministros do STF se reunirão do dia 2 ao dia 12, no plenário da Primeira Turma da Corte, para ouvir e debater o relatório e voto do ministro Alexandre de Moraes. Não será um julgamento qualquer. Sem medo de ameaças externas e despreocupada com os vistos norte-americanos, a maioria dos cinco homens da lei deverá condenar o ex-presidente Bolsonaro e mais sete réus pela tentativa de golpe antes e depois das eleições gerais de 2022.
Demorou, mas chegou o dia. A sorte está lançada, independentemente dos recursos protelatórios que certamente virão. Principal articulador e beneficiário da trama golpista, Bolsonaro queria se manter no poder, mesmo com a derrota para Luiz Inácio. Perdeu nas urnas, perdeu nas ruas, perdeu para os generais e vai perder para Alexandre de Moraes no STF. Parafraseando Zé Ramalho, provavelmente no dia 12 de setembro o povo feliz do Brasil acordará com melhores tempos. Nos automóveis, muitos ouvirão a notícia que os homens publicarão em todos os jornais.
E o povo marcado como gado? Para os que fizeram parte da engrenagem ora enferrujada sobrou muito pouco. Seguindo os sábios ensinamentos de Zé Ramalho, vale lembrar ao povo que dizia fugir da ignorância, mas que vivia tão perto dela, que, bem longe da Arca de Noé e do dirigível, restará ao “Admirável gado novo” a contemplação do mito no interior de uma cela. O grudento refrão pelo menos servirá para mostrar ao gado que, no outro Brasil, há um povo feliz. No STF, a felicidade tem nomes e sobrenomes. Mantidas as reflexões iniciais, Alexandre de Moraes será apoiado pelos ministros Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin. A incógnita é Luiz Fux. Aguardemos.
Embora saiba que não haverá recuo por parte da maioria dos cinco ministros da Primeira Turma do STF, por enquanto prefiro aguardar Alexandre de Moraes bater o martelo. Entretanto, não há dúvida de que, no fim do arco-íris, muito mais do que um pote de ouro, a população brasileira entenderá tudo o que foi armado pelos oito réus para derrubar um presidente eleito e minar qualquer resistência a favor da democracia. O encerramento do julgamento não deverá apenas decretar o fim político de Jair Bolsonaro. O veredito de Xandão também significará o fim de um tempo de escuridão e de uma história triste para o país.
Nunca torci pela prisão de ninguém, principalmente de um ex-presidente da República. Todavia, jamais imaginei o Brasil de volta à ditadura. Eles tentaram, perderam e, agora, mesmo a contragosto, serão obrigados a conviver com a Era de Aquarius. Que venham as novas sanções requisitadas por Eduardo Bolsonaro! Lembrando os compositores Martinho da Vila e Djonga, o novo futuro do país está bem próximo. Acabou a pandemia, Jair Bolsonaro voltará ao pó, os preconceitos diminuirão e, quem sabe, os conservadores viram liberais e os raivosos acabam dóceis. Tomara que o povo servo, o “Admirável gado novo”, também se transforme em povo soberano. Quando o dia 12 de setembro acabar, a nação deixará de amanhecer tomate e de anoitecer mamão. Refazendo tudo, teremos um único Brasil, o Brasil de todos os brasileiros.
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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais