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Esquerda perdida

Celina fecha funil do Buriti e deixa brecha para negociar o vice

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José Seabra - Foto Reprodução das Redes Sociais

O calendário eleitoral pode até apontar 2026 como algo distante, mas em Brasília a sucessão do Buriti já tem arranjo desenhado e personagens definidos. No centro do palco, a vice-governadora Celina Leão (PP) desponta como candidata natural à cadeira de Ibaneis Rocha (MDB), que ensaia uma transição suave para o Senado. A Câmara Alta é o destino comum de governadores que não querem largar o poder, mas preferem a rotina menos desgastante de dois ou três discursos por semana.

O roteiro que se vê na capital da República, que me foi desenhado por analistas políticos na semana que passei na cidade, é simples. Ibaneis mira uma das duas vagas ao Senado; a outra está reservada, na prática, para Michelle Bolsonaro (PL), que transformou a figura de ex-primeira-dama em ativo político de peso. No cálculo dos estrategistas, o eleitorado conservador de Brasília, que nos últimos anos sempre fiel a Jair Bolsonaro, teria votos de sobra para garantir a dobradinha.

Nesse contexto, Celina caminha com confiança. Amparada pelo ex-presidente, ela é tratada como favorita absoluta, a ponto de seus aliados falarem em “eleição decidida” antes mesmo da largada. A comparação não é gratuita. Afinal, no Distrito Federal, Bolsonaro sempre esteve acima da média nacional em votação, e a esquerda, fragmentada, segue sem um nome capaz de romper sua própria bolha. O resultado é uma disputa assimétrica, onde o campo progressista parece mais preocupado em costurar alianças de sobrevivência do que em apresentar uma candidatura competitiva.

Mas há um detalhe que ainda intriga os bastidores. Trata-se da escola do vice. Celina fechou o funil em torno de si, mas manteve uma brecha estratégica para negociação. E é nessa porta entreaberta que entram PSD e Republicanos, dois partidos que orbitam a direita e oferecem musculatura política para completar a chapa. Não se trata apenas de compor, uma vez que o vice, nesse caso, pode garantir blindagem parlamentar e espaço de barganha no futuro governo.

O quadro atual sugere uma eleição quase plebiscitária. É que vemos de um lado, a força consolidada do bolsonarismo com Celina e Michelle; do outro, uma esquerda enfraquecida, que ainda não conseguiu superar o trauma das derrotas em série na capital. O eleitorado brasiliense, conservador por natureza, parece inclinado a repetir o script.

É certo que o processo sucessório no Distrito Federal começa a se definir com antecedência rara. Fossem as eleições hoje, Celina Leão, Ibaneis Rocha e Michelle Bolsonaro ocupariam as três cadeiras principais. O que resta, agora, é assistir às movimentações de bastidor para a composição da chapa e à eterna tentativa da oposição de encontrar uma brecha no muro. Se haverá espaço para surpresas, só os próximos meses dirão. Mas pelo andar da carruagem, o trio de eleitos é o citado acima.

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