Pranto
Onde Mora o Silêncio
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Onde, onde repousa minha essência?
Em que dobra do tempo ela se perdeu?
Sombras de lembranças desfeitas
surgem como névoa em busca de abrigo,
sugando o sopro da minha esperança.
O céu, sem ocaso, permanece imóvel,
frio como o toque que não veio,
sob a ausência que um dia foi calor.
Teus olhos, outrora faróis,
se apagam lentamente na penumbra,
a noite dissolve teu semblante
como tinta em água escura.
As pálpebras, secas de emoção,
guardam o silêncio dos lençóis
que ainda guardam teu perfume
correntes invisíveis que prendem meus gestos
com beijos que doem mais do que curam.
É um pranto que não cessa,
um lamento que ecoa no esquecimento,
solidão sem luz, sem fogo,
ardendo sob cinzas que não se movem.
Cinzas de saudade congelada,
onde as sombras caminham
vestidas de luto e silêncio.
Em vão respiro tua lembrança,
os olhos que um dia sorriram
são agora reflexos apagados.
As sombras da minha mente
se espalham como tinta em papel molhado,
rompendo o ar com suspiros partidos.
Com olhos de carne,
procuro o sal que resta em mim,
nas águas que lavaram minha escuridão.
O espelho me nega,
me afasta na intimidade fria
do vazio que se fez lar.
Fronteiras de águas duras,
opacas e despidas de ternura,
perfuram meus sentimentos
como lâminas de ausência,
abrindo feridas que não cicatrizam.
O céu sangra
sangra com os ecos da minha alma,
destino, artesão de pesadelos,
desnuda minha essência aflita
com o perfume da noite,
que me aperta o peito
como lembrança que não quer partir.
Em vão toquei teus olhos com os meus,
oásis cruel, sedento de presença,
sob a secura do teu silêncio.
Sem suspiros, sem aromas,
a alma chora sob o eco distante
de tudo que não foi dito.
Chora, chora o silêncio que deixaste,
solidão onde os suspiros se afogam,
ecos da nossa realidade partida.
Como os poetas que se perdem
em caminhos de correntes doces,
meus pensamentos envelhecem,
meu coração, ainda amante,
se orgulha com pressa,
rindo enquanto chora.