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Oposição venenosa

Falsa censura pode levar bolsonaristas infantis a apoiar “adultização” de crianças

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto de Arquivo

Vocábulo da moda no Brasil, particularmente no Congresso Nacional, a “adultização” de crianças virou projeto de lei, com chances de ser votado esta semana. Usado para se referir à exposição precoce de menores a conteúdos e comportamentos de adultos nas redes sociais, o termo seria sério não fosse a mobilização dos bolsonaristas. Defensores do veneno, do ódio e da maledicência, os liderados do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), o profeta do caos, prometem barrar a proposta caso haja “algum sinal de censura à internet”. Ou seja, pouco importa a sucessão de crimes contra crianças e adolescentes no ambiente digital.

Importante é a oposição a qualquer coisa que possa beneficiar o governo de Luiz Inácio. Para os bárbaros, tudo é válido para marcar presença na Câmara, no Senado e na mídia, mesmo que essa presença seja nociva à população e perniciosa ao país. Fã das frases de efeito, assino embaixo do desabafo do brasiliense Paccelli Zahler, para quem o Brasil precisa urgentemente adultizar “nossos parlamentares rebeldes, amotinados, inconsequentes, traquinas e infantilizados”. Faltou a adjetivação idiotizados. Com todo respeito aos tolos, ignorantes e lerdos, é o que eles parecem ser.

Antes mesmo da formalização do projeto desejado pelo governo federal, os paladinos da moralidade e da honestidade abrigados no Partido das Lágrimas (PL) se posicionaram contra, sob o pífio argumento da censura. Composto de uma maioria esmagadora de corretores de dízimos das velhinhas com bíblias nas mãos e de fanáticos pelas mentiras, o PL parece não querer saber de coisa alguma que signifique a regulamentação ou a fiscalização das plataformas digitais. Corrigindo, não parece. É a pura verdade.

Na prática, a contrariedade atende a pedidos de Eduardo Bolsonaro, hoje amancebado como o governo de Donald Trump e ainda apegado a Elon Musk. O que as chamadas big techs (Facebook, Instagram e X) querem é nadar de braçada em mares sem ondas. Elas faturam bilhões de dólares no mundo inteiro, mas fogem da fiscalização como os vampiros das réstias de alho. Alertado pelo influenciador Felipe Bressanim Pereira, o Felca, o governo Lula trabalha no sentido inverso.

A proposta em análise no Congresso visa a coibir crimes como pedofilia, tráfico de crianças, prostituição, fraudes bancárias e golpes. Perigosamente, a proposta da oposição é ajudar os criminosos. Simples assim. Acostumados a usar as redes sociais para manifestações políticas, os bolsonaristas têm as plataformas como latrinas partidárias. Como não estão nem aí para o problema, nenhum deles admite a regulação como questão de segurança. Que se danem as crianças, os adolescentes e seus pais.

Interessante é que, enquanto foram governo, a pátria e a família eram as meninas dos olhos de Jair Bolsonaro e de seus asseclas. Como Luiz Inácio lhe “roubou” o mandato, o ex-presidente mudou de lado e agora, por meio de seus aliados no Parlamento, pouco importa que as famílias sejam despedaçadas. Tudo em nome da oposição a Lula da Silva. Fanatismo ou loucura? Acho que as duas coisas. Como plantou o filósofo alemão Arthur Schopenhauer, nem todos os loucos ou burros são fanáticos, mas todos os fanáticos são loucos ou burros. Por conta da maluquice de alguns, a grande vítima será a mesma família que um dia serviu de mote para a politicagem de Bolsonaro.

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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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