Rebanhão envergonhado
Em um país com fé de mais, a fé não costuma faiá, mas Malafaia
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Terceiro pastor mais rico do Brasil, dono de uma igreja evangélica e usuário da televisão como suposta ferramenta de evangelização, o pastor Malafaia Silascou. Conhecido por sua atuação política e, principalmente, pelo costumeiro discurso de ódio e de intolerância, o “evangelizador” foi do céu ao inferno em pouco mais de duas décadas. Depois de aparecer com Leonel Brizola e de apoiar Luiz Inácio da cabeça aos pés nas campanhas vitoriosas de 2002 e 2006, migrou para José Serra em 2010 e, em 2014, fechou com Aécio Neves.
Como se vê, foi sempre cabo eleitoral de candidatos com viés mais à esquerda. Na verdade, ungido por Deus, nunca deixou de ser um pregador da prosperidade por meio da Bíblia. Não à toa, em 2013 a revista Forbes estimou o patrimônio do pastor em US$ 150 milhões. Provavelmente sem oportunidade para flertar com a direita, Malafaia aportou na extrema-direita, fechando com Jair Bolsonaro e a família da maldade. No dia 8 de janeiro de 2023, apoiou publicamente a invasão das sedes dos Três Poderes por radicais bolsonaristas.
Com sua lábia de bom moço, classificou a barbárie dos malucos do Jair como “manifestação do povo”. Crente que estava livre e bem próximo do reino do céu, ganhou uma e perdeu outra com o mito das mentiras via redes sociais. Autodenominado líder religioso, ele talvez não se cale. O difícil agora é alguém sério que ainda tenha vontade e saco de ouvir seus sermões destinados ao enchimento dos bolsos ou as ladainhas diárias contra homossexuais e contra o aborto. Por que não te calas, pastor Malafaia?
Não é vergonha alguma uma autoridade do Judiciário ordenar o recolhimento do passaporte e a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de um cidadão oportunista e que age fora das quatro linhas. Vergonha, meu caro pastor da arrogância, da opressão e da discórdia, é incitar o povo contra o povo, apoiar a intervenção estrangeira no país e defender um criminoso confesso somente pela manutenção do poder. Vergonha é dar ordens estapafúrdias e exigir paparicos financeiros de um rebanhão com metade de incautos e metade de fanáticos pela salvação.
Com exceção dos submissos e dos sabotadores religiosos, pouquíssimos brasileiros permanecem acreditando no perfil de profeta do Apocalipse de Silas Malafaia. Craque na arte de confundir o sagrado com o profano, ele também se diplomou na universidade independente e autônoma dos que testemunham a favor da chantagem bolsonarista contra o Brasil. Nada demais para um religioso que conseguiu dar nó até no próprio Jair Bolsonaro, a quem certamente deve ter prometido vida longa na Presidência da República e a eternidade como político.
Cale a boca, pastor de ovelhas de capacidade intelectual duvidosa! Engula o choro e, se ainda puder, recolha-se exclusivamente a seu rentável, mas terrível, mercado da fé. O sonho de querer dominar a nação acabou. A Avenida Paulista sem vida e parte da orla de Copacabana recheada de evangélicos realmente lembram os cultos de idolatria de sua igreja antidemocrática. Entretanto, o Brasil não é, nunca foi e jamais será seu templo. Aproveitando a frase de um meme recebido em meu WhatsApp, está provado que, em um país de pessoas com fé demais e pessoas com fé de menos, “a fé não costuma faiá, mas Malafaia”. Com toda razão, o rebanhão verdadeiramente da fé está vermelho de vergonha.
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras