Machismo escancarado
Deuses da telinha amam, batem, choram e promovem mau exemplo da violência
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Ontem veio a público a notícia de que o ator Dado Dolabella agrediu Wanessa Camargo, com quem mantém um relacionamento. Não quero me alongar sobre a vida de celebridades. Há sites especializados em vasculhar cada detalhe e fazer disso espetáculo. O que me interessa é a gravidade do tema que transborda da fofoca: a violência contra a mulher.
O episódio, ainda que com personagens conhecidos, é mais um retrato de uma realidade brutal que atravessa todas as classes sociais. Mulheres ricas ou pobres, famosas ou anônimas, com alta escolaridade ou pouca instrução, estão expostas ao mesmo risco: a violência dentro de suas casas, praticada muitas vezes por aqueles que deveriam ser parceiros, companheiros, amantes. O que deveria ser espaço de afeto e proteção, tantas vezes se transforma em cenário de medo e agressão.
Os números não me deixam mentir: centenas de mulheres são assassinadas todos os anos no Brasil pelos próprios maridos, namorados, companheiros. Dentro de um relacionamento heterossexual, paradoxalmente, pode estar um dos lugares mais perigosos para uma mulher. É como se a intimidade, ao invés de trazer segurança, funcionasse como brecha para a violência.
Por isso, quando se fala em violência de gênero, não estamos tratando de casos isolados ou de “descontrole” momentâneo. Estamos falando de uma estrutura social que naturaliza a ideia de que o corpo e a vida das mulheres podem ser controlados, usados e, em casos extremos, destruídos pelos homens ao seu redor.
Esse não é um problema de Wanessa, nem de qualquer outra mulher específica. É um problema nosso, coletivo, que exige políticas públicas eficazes, educação para a igualdade e, acima de tudo, a coragem de romper o silêncio. Porque cada vez que uma mulher denuncia, ela não fala só por si: fala também pelas que já não têm mais voz.