Como será o amanhã?
As cartas estão postas; em tempos de incerteza, o misticismo fala mais alto
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Como prometido no meio da semana, Notibras traz para seus leitores uma nova Editoria. É a Oráculos, que apresentará os mais variados temas ligados ao misticismo. Mas, pergunto-me, o que é ser místico? Particularmente, na minha definição, o misticismo é o sopro invisível que atravessa a razão e busca tocar o indizível. Não se trata de ciência, embora alguns estudiosos entendam que a Astrologia, por exemplo, deva ser tratada como tal. Também não é desde religião estrita, mas da ânsia de comunhão com o mistério que sustenta a vida.
O místico é aquele que enxerga símbolos onde outros veem apenas fatos, que escuta silêncio como se fosse música e procura, nas frestas do real, a centelha do eterno. É a tentativa de alcançar, por meio da contemplação, do êxtase ou da fé, a presença do divino que habita além das palavras e das formas.
Abrindo a Editoria, um texto sobre Oráculos,. Eles surgiram desde os primórdios, quando o homem ainda caminhava à beira dos abismos do desconhecido. Não vieram como trovões nem como espadas flamejantes, mas como sopros ocultos, sinais que se insinuavam no voo das aves, no rumor das águas, no tremor das folhas diante do vento. Ali, na linguagem secreta do mundo, os deuses se faziam ouvir.
Os oráculos eram templos e também eram pessoas: pedras erguidas sobre colinas, cavernas fumegantes, mulheres em transe que, com os olhos voltados para o invisível, traduziram a voz dos deuses em palavras humanas. Em Delfos, dizia-se que Apolo falava pela boca da pitonisa; em Siwa, era Amon que murmurava entre as areias; em Dodona, Zeus deixava seu recado no balançar das árvores sagradas.
Mas o oráculo nunca ofereceu certezas. Seu dom era o enigma. Em vez de caminhos retos, mostrava encruzilhadas; em vez de respostas absolutas, deixava perguntas que cresciam como sementes dentro da alma. Porque o verdadeiro oráculo não era a sacerdotisa nem a pedra consagrada, mas o abismo da própria consciência humana, que projeta nos deuses a sua ânsia por destino.
Assim, fazendo uma breve viagem à aurora dos tempos, posso assegurar que o oráculo acompanha a humanidade como guardião do mistério. Não revela o futuro, mas desperta o homem para a grandeza e o perigo de escolhê-lo, conforme comentavam antigos filósofos gregos. Se pudessemos ouvi-los hoje, seria dito, inegavelmente, que:
“Eu não vos dou respostas, apenas espelhos.
No silêncio das pedras e no ardor dos presságios, reflito aquilo que já habita em vossos corações.
Não me busqueis como quem pede um atalho, mas como quem ousa encarar o desconhecido.
Pois o futuro não é dádiva nem condenação: é a obra que vossas mãos ainda hesitam em esculpir.
Eis o oráculo que fala — e cala — para que em vós mesmos ressoe a voz do destino.”
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Paulus Bakokebas é editor de Misticismo de Notibras
