Alma de furacão
A MULHER QUE NENHUM HOMEM CONTEVE
Publicado
em
Lou Andreas-Salomé.
Nome de abalo. Corpo de mulher. Alma de furacão. Não foi musa — foi o próprio incêndio.
Num tempo em que as mulheres deveriam ser quietas, decorativas e gratas por serem lembradas, nasceu esta mulher que não pediu licença — nem para existir, nem para pensar -, muito menos para amar.
No passo da História, enquanto a Europa ergueu altares para homens com grandes nomes, Lou escrevia com a própria alma. Dormia com a liberdade, debatia com os gigantes — e saía da sala maior do que entrava.
Nietzsche implorou-lhe amor. Rilke rendeu-se à sua inteligência como quem se curva diante de um templo. Freud a tratou como igual — e ouviu.
Lou não orbitava ninguém. Era centro. Era começo.
Falou de desejo quando isso era proibido.
Amou homens e ideias com a mesma fome.
Escolheu um casamento aberto quando o mundo ainda trancava mulheres em jaulas de boas maneiras.
Foi psicanalista, filósofa, escritora — e, acima de tudo, livre.
Com Rilke, ensinou mais que a língua russa: ensinou o abismo da beleza, a coragem de escrever com ferida aberta. Foi a mulher que o fez poeta — e não deixou que ele esquecesse disso.
Com Nietzsche, travou uma guerra silenciosa. Ele viu nela algo que temia e desejava: uma mulher impossível de controlar. Quando ele caiu na loucura, o nome dela ainda ardia nos seus papéis.
E quando o fascismo bateu à sua porta, Lou partiu antes.
Em 1937, pouco antes de a Gestapo emitir sua ordem de prisão.
Como se a história soubesse: ela não podia ser detida.
Lou não cabia em dogmas. Nem em camas. Nem em rótulos.
Ela foi a mulher que transbordou todos os homens. E todos geniais.
E caminhou sozinha, sim — mas com o passo firme de quem sabe o próprio valor.
Lou, a mulher que nenhum homem conteve.
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*Pesquisa Gilberto Motta na internet e a partir de obras de Lou Andreas- Salomé, escritora e psicanalista e seus relacionamentos marcantes com Nietzsche, Freud e o poeta Rilke.
** Veja o filme LOU (2016)… https://youtu.be/Ser3P0faDOg?si=aD8JNt_DrQZ_5L8K
Gilberto Motta é jornalista, escritor e ser vagante aí pela quebradas do mundão procurando a sua Lou-Salomé. Vive na vila de pescadores da Guarda do Embaú SC.