Brasil em dois tempos
Depois de D. Pedro, Xandão deve declarar a segunda independência do Brasil
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No dia 7 de setembro de 1822, D. Pedro 1º. proclamou, às margens do Rio Ipiranga, o grito de independência, consolidando o Brasil como nação independente. Portanto, no próximo domingo, dia 7, brasileiros de direita, de esquerda, de centro, de extrema-direita ou de seitas menos desejáveis comemoram dois séculos e três anos do fim do real e histórico processo de separação entre o Reino do Brasil e o Reino de Portugal e Algarve. Ficamos livres do jugo e da pilhagem colonialista portuguesa. Curiosamente, a mesma semana poderá ficar marcada pelo início do fim de uma rocambolesca, estrogonófica, ideológica e exploradora ameaça de um novo ciclo colonial. É o Brasil em dois tempos.
Entre os dias 2 e 12 de setembro, os cinco ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal decidem pela culpabilidade ou não de Bolsonaro no processo criminal por suposta pretensão de um golpe de Estado. Como faz tempo que a pretensão deixou de ser um símbolo do bolsonarismo, tudo indica que o ex-presidente será condenado a uma pena robusta e em conformidade com suas ações contrárias às quatro linhas da Constituição. Vale registrar que o golpe só não se confirmou por incompetência de seus idealizadores e, principalmente, por ingerência à época dos Estados Unidos de Joe Biden.
Soube por fonte fidedigna que as bolsas e os penhores da Caixa Econômica não estão mais recebendo apostas na condenação, considerada pelos pregoeiros como pule de dez. Para alguns, até de 40. Enquanto o Brasil inteiro aguarda o início da sessão do dia 2, o nome de Jair Bolsonaro pulula negativamente por quase toda a extensão do planeta. Me parece que a exceção se limita à Casa Branca e arredores e à Casa Rosada, sede do governo do perseguido Javier Milei, o presidente argentino que nada, nada, mas deve morrer de touca verde e amarela nas areias do Rio da Prata.
Em reportagem de capa, a revista britânica The Economist publicou nessa quinta-feira (28) uma reportagem afirmando que o Brasil dá uma “lição de maturidade democrática” para o continente americano, em contraponto aos Estados Unidos de Donald Trump. Sobre o julgamento de Bolsonaro, definido pela revista como Viking do Capitólio, os articulistas da The Economist revelam que o fato transformará o país em um teste de como outras nações podem superar uma “febre populista”.
Dito isto, está claro que, fora os aliados, o clã Bolsonaro e os vassalos de Trump, o mundo defende a determinação do Brasil em salvaguardar e fortalecer sua democracia. Estamos bem na fita. Por enquanto, ainda não experimentamos a tragédia anunciada por Eduardo Bolsonaro ao propor a Trump o tarifaço para atingir o governo, o povo brasileiro e a Suprema Corte do país, hoje a principal barreira contra a democracia. Como há poucas dúvidas acerca da proposta do ex-presidente de se manter no poder à força, o dia 2 de setembro deverá mostrar à nação e ao mundo quem tem razão.
A maioria do povo já tem opinião formada, o que poderá se materializar nas próximas eleições presidenciais, provavelmente com a participação de Luiz Inácio Lula da Silva. Até aqui, usando de uma suposta longa amizade com o ex-presidente Jair Bolsonaro, o presidente dos Estados Unidos ameaçou Deus, o globo terrestre, a diplomacia, a magistratura, os caboclos da umbanda e os exus do candomblé para impedir que o parceiro de maldades cumpra pena pela série de crimes cometidos e confessos contra os preceitos democráticos. Deus com os burros n’água, pois o xerife Xandão aguarda somente os cálculos finais para decretar a segunda independência do Brasil.
Por mais que tentassem, os bajuladores e capachos do líder norte-americano não conseguiram sequer movimentar os seguros alicerces de nossa consolidada soberania, tampouco amedrontar os juízes sérios do STF. Por essa razão, não há como encerrar a narrativa sem concordar que, ao contrário dos EUA de ontem, o Brasil de hoje demonstra maturidade política e não aceita mais a presença política do “Trump dos trópicos”. Por fim, também registro que, em 1822, D. Pedro gritou Independência ou Morte. Agora, entre 2 e 12 de setembro, o ministro Alexandre de Moraes e os quase 60% de brasileiros que apoiam a condenação de Bolsonaro certamente gritarão Independência e Sorte.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978