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Caminhos da perdição

Abraçadas, religião e política não conseguem salvar almas

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Autor/Imagem:
Augusto Oliveira Lima - Foto Editoria de Artes/IA

Dizem que a fé é coisa íntima, sagrada, que deveria servir apenas para dar sentido à vida e alívio às dores. Mas eu vejo, cada vez mais, a fé sendo usada como arma de guerra, empunhada por líderes que confundem púlpito com palanque. E quando religião se mistura com política, o que poderia ser luz se torna sombra.

Eu não tenho nada contra quem acredita, reza ou busca amparo em seus deuses. O problema começa quando alguém resolve impor sua crença como lei, ditando o que é certo e errado não pelo bem comum, mas pela cartilha de uma fé particular. A religião, nesse ponto, deixa de ser um espaço de acolhimento e passa a ser um instrumento de poder, de controle, de manipulação.

É nesse casamento espúrio entre crença e política que nascem os falsos profetas: aqueles que prometem salvação em troca de votos, que transformam altares em palanques, que usam o medo do inferno para conquistar cadeiras no Congresso. E é nesse mesmo terreno que floresce a intolerância — porque, afinal, quando um dogma vira lei, quem pensa diferente é tratado como inimigo.

Eu me pergunto: onde fica a democracia quando se coloca a fé acima da razão? Onde fica a liberdade individual quando o Estado se ajoelha diante de um credo? O resultado é sempre o mesmo: perseguições, retrocessos, privilégios disfarçados de moralidade.

Religião e política, quando se abraçam, não salvam almas nem constroem nações. Elas corroem as bases da convivência, destroem a laicidade do Estado e fazem da fé um negócio lucrativo. O preço, quem paga, somos nós — com menos direitos, menos liberdade e mais medo.

Por isso, eu digo sem hesitar: a fé pode ser alimento da alma, mas, quando vira bandeira partidária, apodrece. E o mal que ela causa é sempre maior do que qualquer promessa de salvação.

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