Curta nossa página


Real ampliado

Os sonhos que voltam quando menos esperamos

Publicado

Autor/Imagem:
Emanuelle Nascimento - Foto Francisco Filipino

Há noites em que somos visitados por presenças esquecidas. Pessoas que não vemos há anos, cenas que acreditávamos dissolvidas pelo tempo, retornam em nossos sonhos com uma nitidez quase cruel. É como se a mente, esse arquivo desobediente, decidisse reorganizar memórias escondidas no porão do inconsciente.

Freud diria que o sonho é realização de desejo; Jung, que é linguagem simbólica do inconsciente coletivo. Mas, para além das teorias, há o estranhamento etnográfico: por que recordamos, de forma onírica, o que a vigília não permite? Talvez porque o esquecimento seja apenas uma máscara social, um artifício de sobrevivência.

O sonho é o retorno do reprimido, mas também uma forma de reabrir o diálogo com os fantasmas que estruturam nossa identidade. Ao acordar, não é raro sentir o desconforto da memória involuntária o tipo de lembrança que, como em Proust, vem impregnada de sensações, de cheiro, de corpo.

Sonhar, nesse sentido, não é se refugiar do real, mas viver um real ampliado, onde o tempo cronológico perde sentido. Somos etnógrafos de nós mesmos, coletando fragmentos de passados que insistem em nos habitar.

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2025 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.