A Lenda da Cidade Encantada de Jeriquaquara

Dizem que, quando a lua cheia se espelha nas águas serenas das dunas de Jeriquaquara, o vento sopra segredos antigos, daqueles que só o povo do sertão sabe decifrar. Entre pescadores e viajantes, corre uma história que resiste ao tempo: a lenda da Cidade Encantada, submersa sob as areias e os mares que beijam o litoral nordestino.

Reza a tradição que, muito antes de Jeriquaquara ser conhecida por suas praias e por sua beleza quase mística, ali existia uma cidade próspera, feita de pedra e fé. Suas ruas eram largas, iluminadas por tochas que nunca se apagavam, e no centro havia uma igreja cuja torre apontava para o céu como um dedo de oração. Os moradores viviam em fartura, alimentados pelo mar generoso e pelas mãos que sabiam cultivar a terra.

Mas a abundância trouxe também o orgulho. Conta-se que os habitantes começaram a esquecer os valores de humildade e respeito. A vaidade cresceu mais que as palmeiras, e o som das festas abafou as preces. Foi então que, numa noite em que os sinos soaram sem mão humana que os tocasse, um vento forte se levantou, e a areia das dunas engoliu a cidade inteira.

Dizem os mais velhos que a cidade não morreu: apenas dorme, encantada, esperando o dia em que sua gente volte a viver com simplicidade. Há quem jure que, em noites de luar, ainda se escuta o murmúrio dos sinos e o canto de um coral invisível. E que, nas águas cristalinas, às vezes se vê o reflexo de torres e janelas que não estão mais lá — mas que habitam a memória da terra.

Jeriquaquara, com suas ruas de areia e seu silêncio que conversa com o vento, guarda mais que beleza natural. Guarda mistério. Guarda promessa. Talvez a cidade encantada seja apenas lenda, talvez seja verdade. Mas, no Nordeste, onde o real e o imaginário se abraçam como irmãos, não importa tanto acreditar. Basta sentir — e deixar que o coração seja tocado pela poesia que mora na paisagem.