Tiro no pé
Democracia é um bem de todos e resta ao povo entender. Simples assim
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Dividido entre a violência e o ódio e entre a ganância e o pouco caso com o povo, o Brasil de nossos dias é um exemplo de desequilíbrio mental, político e ideológico. Por mais que achem o contrário, estamos bem próximos do ridículo como nação que um dia aspirou chegar ao Primeiro Mundo. Não é preciso ser letrado ou intuitivamente confiante para perceber que estamos mais perto da escuridão do que da luz no fim do túnel. Lembro de como foi árdua a luta de verdadeiros patriotas para que o país recuperasse a plenitude da democracia.
E não faz tanto tempo. Hoje me envergonho daqueles que, dissociados das normas e das leis, tentam reinventar um sistema democrático que garanta liberdade a terroristas e a golpistas travestidos de presidente da República, de generais, almirantes, coronéis, de senadores, de deputados federais e de agropecuaristas. Não é difícil concluir que a maioria dos atuais parlamentares transformou o Congresso Nacional em um espaço de legalização das mais diferentes modalidades de ações do crime organizado. Mais fácil ainda é a certeza de que poucos deles têm o país e seus eleitores como prioridades.
Contra, a favor ou muito pelo contrário, a condenação de Jair Bolsonaro deveria ser o primeiro passo para a virada de página política, ideológica e social. A quem interessa manter o Brasil dividido? A ninguém, nem mesmo àqueles que contribuíram para a divisão. A pátria amada é de todos. Ela é dos artistas, dos passistas, dos sambistas, dos malabaristas, dos contistas e dos agropecuaristas, mas jamais será dos fascistas, dos entreguistas e, principalmente, dos terroristas. O jogo foi jogado. Quer queiram ou não, o resultado não se baseou em achismos ou teorias improváveis.
A robustez das provas parece ter incomodado até mesmo os que usavam de ameaças externas para tentar virar a mesa interna. Inquestionáveis e imutáveis, as penas terão de ser cumpridas, independentemente da movimentação de parte dos congressistas na busca de atalhos criminosos, descabidos e inconstitucionais em favor da disseminação do vírus do autoritarismo. Conquista inegociável, a democracia é um bem de todos. Nesse sentido, entender e acatar a condenação dos principais agentes da trama golpista pode ser o primeiro e definitivo passo para a necessária pacificação da nação.
Para sorte de todos, o Brasil ainda é um país composto majoritariamente por pessoas sensatas. Com toda certeza, mesmo contrários à ideologia professada pelos condenados, os sensatos mais lamentaram do que gargalharam do justo desfecho do julgamento. Os fatos claramente atropelaram os argumentos. Além da cautela e do caldo morno de galinha, o melhor remédio para curar a dor decorrente da vaidade, do orgulho e da soberba e da arrogância política é o tempo, também conhecido como o senhor da razão. Apesar das críticas e dos esperneios, foi o que fez Luiz Inácio durante o retiro prisional e é o que deveria ter feito Jair Bolsonaro após a derrota de 2022.
Nem sempre quem atira no que imagina errado acerta no que se supõe certo. É o que posso dizer para o governador Tarcísio de Freitas, provável candidato bolsonarista nas eleições presidenciais de 2026. Defender anistia irrestrita com objetivo óbvio de contaminar ainda mais a disputa eleitoral, xingar supostos inimigos políticos e atacar sem provas quem um dia poderá julgá-lo não devem ser consideradas estratégias políticas, mas um certeiro tiro no pé. O que está escrito na Constituição não se altera. Qualquer tentativa de reescrevê-la por linhas tortas significará a sequência do golpe que fracassou. Pensem nisso, lutem pela conquista dos eleitores e democraticamente vençam as eleições. Somente assim vocês voltarão a ser respeitados e novamente avaliados como patriotas.
