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Lenda viva

Hermeto dá adeus e deixa notas musicais em silêncio

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Marta Nobre - Foto de Arquivo

Hermeto Pascoal, gênio absoluto e ícone da música brasileira, fez sua travessia neste sábado, aos 89 anos. A família anunciou a partida em comunicado nas redes sociais. O músico estava internado no hospital Samaritano, no Rio de Janeiro. A causa da morte não foi revelada.

“Com serenidade e amor, comunicamos que Hermeto Pascoal fez sua passagem para o plano espiritual, cercado pela família e por companheiros de música”, informou a nota. “No exato momento em que partia, seu Grupo estava no palco, como ele sempre desejou: fazendo som e música. Como ele nos ensinou, não deixemos a tristeza dominar: ouçamos o vento, o canto dos pássaros, a queda da cachoeira, a música universal segue viva… Quem quiser homenageá-lo, deixe soar uma nota no instrumento, na voz, na chaleira, e ofereça ao universo. É assim que ele gostaria. Gratidão por todo o carinho ao longo do caminho.”

Nascido em 22 de junho de 1936, em Olho d’Água, povoado de Lagoa Grande, na região de Arapiraca (AL), Hermeto transformou a música em linguagem do cosmos. Multi-instrumentista, improvisador nato, arranjador e compositor, ele dissolveu fronteiras entre o erudito e o popular, entre o regional e o universal.

Deixa seis filhos, 13 netos, dez bisnetos e uma obra eterna — uma das mais originais e fecundas da história da música brasileira.

A carreira iniciada ainda na adolescência fez dele um alquimista sonoro. Passeou pelo jazz, pelo forró, pelo samba e pelo frevo, mas preferia chamar tudo isso de “música universal”. Colecionou admiração de nomes como Elis Regina e Miles Davis e, até seus últimos dias, não deixou de criar, de se surpreender e de surpreender o mundo.

Em 2024, lançou Pra Você, Ilza, disco em homenagem à esposa já falecida, que lhe rendeu o Grammy Latino de Melhor Álbum de Jazz Latino. No mesmo período, teve sua vida e sua arte contadas na biografia autorizada Quebra Tudo — A Arte Livre de Hermeto Pascoal, de Vitor Nuzzi.

Mesmo sob chuva torrencial, no festival The Town, em São Paulo, em 2023, mostrou porque era chamado de “bruxo” e de “mestre”: fez soar chaleira, brinquedos, teclados e silêncios, num ritual de encantamento que reafirmou sua condição de lenda.

Sua partida deixa silêncio. Mas é apenas um silêncio entre notas — porque a música de Hermeto não morre, apenas repousa e se espalha.

Adeus, Hermeto. Ou melhor: até logo. Sua música continua sendo vento, água, fogo, chão e céu. Continua sendo vida.

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Marta Nobre é Editora Executiva de Notibras

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