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Menudos do Congresso

‘Festa de arromba’ fará bolsonaristas dançarem para o resto da vida

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Jr - Foto de Arquivo

Em uma dessas noites de rara insônia, subi aos céus tentando me avistar com o poeta Erasmo Esteves, conhecido artisticamente por Erasmo Carlos. Como fui sem pedir licença ao mestre Roberto Carlos Braga, obviamente não fui atendido. Meio tentadora, a ideia era pedir ao imortal cantor, compositor, ator, músico, multi-instrumentista e escritor brasileiro permissão para, respeitosamente, informá-lo que a verdadeira Festa de Arromba não foi aquela lançada em 1965 para homenagear os principais nomes e grupos do movimento musical denominado Jovem Guarda.

Muito mais grandiosa, animada, ruidosa e sempre em clima de celebração é a festinha organizada diariamente pela nova velha guarda da extrema-direita, cujas lideranças não estão nem aí para a imagem do Congresso Nacional. O que eles querem é inverter a norma e anistiar golpistas já condenados e próximos da cana. Destinado a deixar uma impressão duradoura em todos que dele participam, o sarau público nas privadas do Parlamento é de fazer inveja aos ditadores de 1964. Os mais velhos se lembram que os generais daquela época buscavam o imaginário milagre econômico. Já os bagrinhos de hoje trabalham para arrombar de vez o Brasil.

A ordem é rasgar e jogar no lixo o que restar da Constituição de 1988. É só chegar, comprar o ingresso e começar a apreciar a orgia política em que se transformaram as últimas sessões da Câmara e do Senado. Como no local há sempre o rádio e a televisão, é comum notar logo na entrada o pastor Silas Malafaia com sua Bíblia na mão, orando para evitar que a senadora evangélica Damares Alves seja confundida com a evangélica deputada Benedita Silva. Lembrando os velhos porteiros de casas de saliência, o deputado Nikolas Ferreira aproveita os jornais, as tevês, a confusão e o apoio dos mais fortes para xingar e denegrir a pessoa do ministro Alexandre de Moraes.

A seu lado, bancando o anfitrião, o senador Rogério Marinho lembra ao menino maluquinho que o mundo dá voltas e que, ao contrário do mandato parlamentar, o cargo de Xandão é vitalício. Como a festa é de arromba, vale tudo, inclusive Jair Bolsonaro apresentando a todos sua mademoiselle Michelle como futura senadora pelo Distrito Federal. Será? De longe, com um copo na mão, Valdemar Costa Neto dá de ombros e quase cai no colo do deputado paulista Fausto Pinato, o pepista que hoje é muito mais lulista enrustido do que o falseano alagoano Arthur Lira, sempre de mãos dadas com o piauiense Ciro Nogueira.

O baile rola e a multidão extremista continua de amargar. Dia desses, logo que cheguei na porta do plenário percebi que, enquanto a deputada Jandira Feghali ria, a similar Bia Kicis desistia de agarrar o doce que do prato do Hamilton Mourão não saía. Patriota sem firma reconhecida, o senador pastor Magno Malta não se cansa de reunir a banda bolsonariana para, diante das galerias do Senado, ensaiar o desgastado e descolado refrão Lula é ladrão. Subindo de repente à tribuna da Casa, Cleitinho e Sérgio Moro anunciam que há um corre-corre nos corredores indicando que é Luiz Inácio chegando para anunciar a equipe do Lula 4.

Na Câmara, o líder Sóstenes Cavalcanti tenta convocar os brotos do lugar para votar a anistia ampla, geral e irrestrita a Vanderléa, Cely Campelo, Martinha, Meire Pavão, Rosemary, Maria do Rosário, Gleisi Hoffmann e Sâmia Bomfim, todas acusadas de golpismo contra o golpe tramado por Jair e seus Blue Caps. Convocados por Sóstenes ao plenário, Simonal e Jair Rodrigues vão ao microfone e dizem que só votam a favor se os Golden Boys Gustavo Gayer, Carol De Toni, Filipe Barros, Marco Feliciano e Zé Trovão assumirem publicamente que não irão procurar Lula em 2026 reivindicando uma vaguinha no Ministério.

Fechada a banca dos homens da capa preta, os fariseus do mercado do vale tudo reiniciavam o pregão da anistia geral quando, também de repente, a bordo de um carrão avermelhado, adentra o recinto o ministro Luiz Fux e suas reluzentes madeixas prateadas. Fux, aquele mesmo das contradições inexplicáveis, foi saudado de forma entusiasmada com o coro de Ele é bom, é o bom, é o bom, é o bom demais. A turma do motim há de convir que melhor é impossível. Para azar dos menudos amotinados, dos golpistas e dos ilusionistas, é dos carecas assumidos que o povo brasileiro gosta mais.

Hey-hey (Hey-hey), que onda, mas, felizmente, as festas da direita não foram feitas para durar. Com Sóstenes e Seus Miquinhos Amestrados fora da fuzarca, a festa de arromba vai começar, mas em outro acampamento e com muito samba no pé. O povo do amor e da tolerância parece disposto a dançar até o sapatinho pedir para parar. Quando isso ocorrer, aposto que todos irão tirar o sapato e dançar o resto da vida. E, de quebra, livrarão de vez a sociedade e a nação dos cânceres do patriotismo e da intolerância. E agora, José? Sua festa acabou! Não se apoquente. Ainda lhe resta o Banho de Lua. Ou seria de sol? Tanto faz. Importante é que, em breve, vossa ex-celência começa a ver o futuro por cima de um muro.

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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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