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Bahia e Sergipe

Reabertura das fábricas de fertilizantes reacende debate sobre autonomia agrícola

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Autor/Imagem:
Júlia Severo - Texto e Foto

A decisão da Petrobras de retomar as fábricas de fertilizantes na Bahia e em Sergipe pode marcar uma reviravolta estratégica para o agronegócio brasileiro. Paralisadas desde 2023, as unidades foram arrendadas à Unigel, mas permaneceram inativas devido ao alto custo do gás natural, insumo essencial para a produção de ureia e amônia. Agora, com a aprovação de um novo processo de licitação, cresce a expectativa de que o Nordeste volte a ter papel central na cadeia de insumos agrícolas.

O Brasil importa cerca de 80% dos fertilizantes que consome, o que torna o setor agrícola — responsável por quase 25% do PIB nacional — extremamente vulnerável a variações de preço no mercado internacional e a crises geopolíticas. Em plena guerra na Ucrânia, por exemplo, os custos de importação dispararam, expondo a fragilidade do país. A reativação das fábricas nordestinas surge como alternativa para reduzir essa dependência.

“Produzir fertilizantes aqui significa dar mais estabilidade ao campo, especialmente para os pequenos e médios agricultores que sofrem com os altos preços do insumo”, explica um pesquisador de políticas agrícolas ouvido pela reportagem.

As fábricas da Petrobras estão localizadas em Camaçari (BA) e Laranjeiras (SE), dois polos industriais que já sentiram o impacto do fechamento em termos de perda de empregos e arrecadação. A reabertura pode gerar centenas de postos de trabalho diretos e milhares indiretos, além de movimentar a economia regional.

Para os agricultores do Vale do São Francisco, principal polo de fruticultura irrigada do país, a medida pode ser decisiva. A região é responsável por boa parte da produção de uva e manga exportada pelo Brasil, mas enfrenta altos custos para adquirir fertilizantes importados.

Apesar do anúncio, o futuro das fábricas ainda depende da resolução de disputas contratuais entre a Petrobras e a Unigel. Há uma arbitragem em curso para definir responsabilidades sobre investimentos feitos e os termos de fornecimento de gás natural. Fontes ligadas ao setor afirmam que até mesmo a Unigel poderá disputar novamente a operação, caso um acordo seja fechado.

Especialistas também alertam que a simples retomada não basta: será preciso garantir preços competitivos, políticas de incentivo e segurança no fornecimento de gás natural, para que as fábricas sejam economicamente viáveis.

A reativação das unidades no Nordeste não é apenas um movimento empresarial, mas uma decisão estratégica de soberania alimentar. Ao reduzir a dependência externa, o Brasil fortalece sua posição no mercado internacional e dá mais condições de previsibilidade para milhões de agricultores.

“O Brasil não pode ser potência agrícola e, ao mesmo tempo, refém da importação de fertilizantes”, resume um analista do setor energético.

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