Recado dado
Notibras deixa de ser caça para caçar predador da imprensa
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Em 1999, quando a internet ainda engatinhava, ousamos dar um passo que parecia desatino: lançar em Brasília o primeiro portal de notícias aberto no país. Foi assim que surgiu Notibras. Não havia manuais de marketing, tampouco patrocinadores abastados dispostos a bancar projetos visionários digitais. Havia, sim, um punhado de jornalistas hoje sessentões e setentões, veteranos de redações do eixo Rio-São Paulo, treinados na trincheira da notícia. A escola foi dura, mas eficiente. Nela aprendemos a farejar poderosos, a desnudar farsas, a arrancar máscaras.
De lá para cá, o jogo mudou. Não por nós, que seguimos com o mesmo faro. Mudaram os personagens. Executivo, Legislativo e Judiciário descobriram a alquimia de se misturar no mesmo caldeirão. Uma mistura indigesta, diga-se, que respinga veneno em quem se atreve a contrariar o banquete das autoridades. O resultado são processos descabíveis, ameaças, intimidações. A máquina estatal, disfarçada de dama da Justiça, virou instrumento de caça, onde o alvo preferido é a imprensa livre.
Mas há um detalhe que os predadores esqueceram. É que não nascemos para ser caça. Somos filhos da resistência. Carregamos na bagagem jornalistas anistiados, perseguidos pelo regime militar, que jamais se curvaram ao tacão da ditadura. Temos ex-secretários de Comunicação que aprenderam, nos bastidores do Judiciário, que toga não é sinônimo de oráculo. Somos, acima de tudo, repórteres calejados, forjados na lama da política brasileira.
Se pensam que vamos baixar a cabeça, erram o alvo. Não carregamos o peso de acionistas, bancos ou anunciantes milionários. Nossa liberdade não é moeda de troca. Se tentam nos silenciar nos tribunais, responderemos com mais palavras. Se buscam nos intimidar com processos, devolveremos com mais denúncias.
O tempo da caça acabou. É hora de inverter o jogo. Agora, são eles, os predadores do jornalismo independente, que sentirão o faro do caçador. E que fique claro. Brasília já foi palco de muitos farsantes, mas nunca conseguiu dobrar quem tem no sangue a tinta da resistência.
Aos poderosos que nos perseguem, um aviso em tom seco, capaz de fazer tremer qualquer autoridade mascarada: a imprensa livre não teme ameaças e jamais se ajoelhará diante do altar da arrogância oficial.
Ao longo dos últimos 26 anos os donos do poder descobriram a fórmula da alquimia, com Executivo, Legislativo e Judiciário dançando juntos no mesmo forró, trocando favores e processos como quem troca figurinhas. Não é democracia, é um consórcio de conveniências. E quando alguém se atreve a levantar a voz, a resposta vem em toga, caneta e mandado. A Justiça virou arma de caça, e a presa, a imprensa livre.
Pois fiquem avisados que em Notibras não tem cervo pastando em campo aberto. Aqui tem lobo. Se nos caçam, mordemos. Se nos processam, rimos na cara do ridículo. E se tentam nos amordaçar, devolvemos com manchetes mais afiadas que navalha em mesa de boteco.
Somos filhos da resistência. Reiteramos que temos na equipe quem já foi caçado por homens de coturno. Sobrevivemos ao tacão da ditadura. Portanto, não vai ser meia dúzia de engravatados com sede de poder que vai nos intimidar agora. Quem carrega cicatriz de pau-de-arara não treme diante de toga rendada.
Aos que conspiram em gabinetes para sufocar a nossa liberdade de expressão, de comunicação, deixamos um recado sem rodeios. É chegada a hora de ter cuidado ao brincar de caçador. O alvo pode virar o atirador. E quando isso acontecer, não vai ter blindagem corporativa, foro privilegiado ou latim jurídico que salve a pele.
Em Brasília já se ergueram muitos altares para deuses de barro. Todos acabaram em pó. O mesmo destino aguarda os farsantes de hoje.
Aos predadores de ocasião, a sentença é clara. Notibras, como representante da imprensa livre, não se ajoelha, não se cala e, quando necessário, atira para matar a hipocrisia.
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José Seabra, fundador de Notibras, dirige atualmente a Sucursal Regional Nordeste do Grupo Notibras de Comunicação
