Maranhão
Desigualdades profundas e caminhos para mudar o quadro
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No Maranhão, viver é conviver com contrastes fortes demais. Entre a beleza natural que encanta — com seus lençóis, mangues, praias e interior cheio de história —, há também uma realidade que pesa sobre muita gente: a desigualdade social, ainda presente de forma intensa, afetando o acesso às condições básicas de vida, trabalho, educação e segurança.
No litoral, as comunidades da Baixada Maranhense enfrentam uma pobreza que não se distribui de maneira uniforme: quem vive próximo de centros urbanos às vezes encontra melhores escolas, postos de saúde mais próximos, acesso a transporte; já no interior, ou nas zonas rurais mais distantes, famílias lutam diariamente para ter água potável, transporte decente, merenda escolar que não falte, atendimento médico de qualidade.
Mulheres, com frequência, carregam duplas jornadas — cuidam da casa, dos filhos, e ainda buscam oportunidades de trabalho, frequentemente informais ou mal remuneradas. O espaço para crescimento profissional é menor, assim como o acesso a empregos formais. A invisibilidade do trabalho doméstico, da agroextrativismo familiar ou das pequenas vendas também aumenta essa desigualdade.
Regiões como o Litoral e a Baixada Ocidental chamam atenção por concentrarem pessoas em condições severas de pobreza. Nessas áreas, muitas famílias vivem com insegurança alimentar, moradias precárias, acesso limitado à rede de saneamento e dificuldades não só de sobreviver, mas de se manter dignamente. Crianças e gestantes são especialmente vulneráveis, seja pela desnutrição, seja pela falta de atendimento de saúde adequado ou pelo distanciamento de centros onde há esses serviços.
O Maranhão ainda apresenta uma das maiores desigualdades salariais entre homens e mulheres — embora haja sinais de melhora, as mulheres seguem ganhando menos e enfrentando barreiras adicionais. Essa disparidade aumenta quando se consideram raça e localização geográfica: mulheres negras, por exemplo, acabam em dupla ou tripla desvantagem.
Além disso, há também o desafio do desemprego feminino que contempla tanto o mercado formal quanto o informal — trabalho sem garantias, que muitas vezes não aparece nas estatísticas oficiais, mas representa um peso grande na realidade de milhares de famílias.
Em meio a esse cenário complexo, alguns sinais de resposta começam a surgir:
•Foi sancionada uma lei que institui o Pacto Estadual de Combate à Desigualdade Social e à Pobreza, com o objetivo de criar políticas integradas para garantir direitos básicos, fortalecer educação, saúde, qualificação profissional e melhorar a renda da população mais vulnerável.
•Também há iniciativas de transparência salarial, exigindo que empresas divulguem diferenças entre o que recebem homens e mulheres em seus quadros, o que ajuda a evidenciar e confrontar desigualdades.
Apesar desses movimentos, mudar estruturas históricas nunca é fácil. Políticas públicas precisam de continuidade, financiamento, fiscalização e participação da comunidade. Muitas vezes, as iniciativas dependem de recursos insuficientes ou da vontade política que varia com governos.
Além disso, há o desafio de garantir que a lei não fique só no papel — que o pacto não seja apenas simbólico, mas que gere resultados visíveis para as pessoas que precisam: famílias rurais, quilombolas, pessoas negras, quem vive longe dos centros.
O Maranhão está diante de um momento crucial. As articulações legislativas recentes, a visibilidade de temas como igualdade salarial, desigualdade de gênero, ampliação de direitos, mostram que há vontade de reverter o quadro.
Se houver compromisso real, participação popular e enfrentamento das raízes da desigualdade — terra, saúde, educação de qualidade, emprego digno —, o estado pode não só aliviar o sofrimento de muitos, mas mostrar que é possível quebrar ciclos de pobreza estrutural, construir uma sociedade mais justa e dar novo sentido à ideia de progresso para todos.