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Lula & Trump

Na roda viva da vida, só alcança o impossível quem acredita no possível

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Autor/Imagem:
Misael Igreja - Foto Editoria de Imagens/IA

Na canção Roda viva, o compositor e intérprete Chico Buarque usou uma série de metáforas para cantar o socialismo, falar de resiliência e enaltecer a resistência no período da ditadura militar. Ironicamente, a Roda viva era a representação de uma pulsão de morte. E foram muitas. Tempos passados. No presente, “a gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis que chega a Roda viva e carrega o destino pra lá“. E carregou para os Estados Unidos, mais precisamente para a sede da Organização das Nações Unidas.

É claro que em 1968, ano da composição, ainda não havia Donald Trump para o Brasil. O tempo que rodou num instante parece ter andado a galope e, na mesma roda gigante, no mesmo redemoinho, mudou o giro do cenário político. A diferença de lá para cá é que hoje a gente não se sente mais como quem partiu ou morreu. O mundo cresceu e nós fomos juntos. Temos vez e voz. Lutamos contra a corrente golpista, resistimos e espantamos a impunidade perene dos parlamentares e, rodando o pião de nossa grandeza, conseguimos calar os argumentos daqueles que só queriam nos emparedar.

Livres de um governante cujo lema era vergonha pouca é bobagem, continuamos longe do ideal de país. No entanto, mostramos aos hereges, aos antipatriotas e ao câncer denominado bolsonarismo que, unidos, jamais seremos vencidos. Além da cautela e do caldo morno de galinha, o melhor remédio para esses tipos cancerígenos é o tempo, também conhecido como o senhor da razão. Foi o que fez Luiz Inácio nas tratativas sobre o tarifaço sugerido pelo clã Bolsonaro e imposto por Donald Trump a uma nação que ele conhecia, mas desconhecia sua importância.

Sem dar um tiro ou um único grito, em 39 segundos e de pé Lula tornou possível o que parecia impossível para o mundo globalizado. De diabo com nove dedos a “um cara legal”, o presidente do Brasil mostrou ao “colega” dos Estados Unidos que quem ama o feio bonito lhe parece. Brincadeiras à parte, Trump ouviu atentamente o discurso de Lula no púlpito da ONU. Minutos de divagação e segundos de reflexão foram suficientes para que o mandatário norte-americano percebesse que é na volta do barco que se sente o quanto se deixou de agir. Ou que agiu de forma diferente.

Embora seja simpático à falta de propostas de Jair Messias, Trump refletiu rapidamente sobre a notável diferença entre o amiguinho e, quem sabe, o ex-inimigo. Pelo sim, pelo não, a qualidade e os temas abordados no discurso do líder petista na ONU provaram que há uma distância intelectual, política e humana abissal entre os dois. Talvez Trump não mude de opinião em relação a Bolsonaro, mas, com certeza, mudará a postura e o tom quando se dirigir a Luiz Inácio e ao Brasil. O encontro de Lula com Trump ultrapassou o campo da probabilidade, mas ainda é uma incógnita. De todo modo, é o primeiro passo para que os dois países recuperem o bom relacionamento que sempre tiveram.

Apesar das loucuras de Eduardo Bananinha para salvar o pai da cadeia, a roda da saia da mulata deve voltar a rodar. Se Chico Buarque pudesse alterar a letra de Roda viva, ele provavelmente diria hoje que a fogueira e a cegueira ideológica dos bolsonaristas não conseguiram queimar o samba, a viola e a roseira. Como o bolsonarismo foi uma ilusão passageira, o custo do efeito da destilação gratuita do ódio é a reeleição de Lula da Silva. Não contemos com Trump no coro do Lula lá, mas, desde já, comecemos a repetir que a única forma de chegar ao impossível é acreditar que é possível. Lula acreditou. Os Beatles nunca vieram ao Brasil, mas Donald Trump virá para se certificar de que as cores da Bandeira brasileira são o verde, o amarelo, o azul e o branco.

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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais 

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