Um alerta
‘Sociedade médica’ que nasceu em meio ao luxo já levanta suspeitas
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Um congresso promovido por uma indústria farmacêutica fabricante de PMMA transformou-se em palco para o lançamento de uma nova entidade médica: a chamada Sociedade Brasileira de Harmonização (SBH). O evento, marcado por desfiles de médicos em roupas de grifes famosas e chegadas em carros de luxo, contrastou com a fragilidade das bases institucionais da iniciativa.
Segundo o material de divulgação, “a Sociedade Brasileira de Harmonização nasce para ser referência nacional em harmonização médica (…), com destaque para o PMMA”. Entretanto, especialistas consultados alertam que, apesar da pompa e da apresentação feita pela presidente da entidade, a médica Keyla Klava Pujol, a SBH “já nasceu morta”.
As razões para essa afirmação são graves: não houve aprovação de estatuto, nem registro de ata. Além disso, os registros profissionais de membros da diretoria junto ao CRM aparecem com números sequenciais ou repetidos, o que pode configurar falsidade ideológica e gerar sanções éticas.
Outro ponto questionável é o fato de a sociedade dividir endereço com o consultório do vice-presidente, o médico Rafael Almenara, em Cabo Frio (RJ). Essa sobreposição de pessoas jurídicas em um mesmo espaço físico pode resultar na cassação de alvará sanitário, dependendo da atividade exercida.
Mas o fator mais preocupante vai além da ausência de estatuto e das irregularidades formais: o telefone de contato da SBH é atendido por Fábio Prado, gerente comercial da MTC Medical, fabricante do PMMA Biossimetric — o mesmo produto promovido no evento. Ou seja, a “sociedade médica” parece nascer atrelada diretamente aos interesses da indústria farmacêutica, levantando sérios questionamentos sobre independência científica e ética profissional.
Vale lembrar que o Conselho Regional de Medicina de São Paulo tem reiterado sua posição contrária ao uso de PMMA em procedimentos estéticos e chegou a pedir à ANVISA o banimento da substância. Apesar de já ter sido informado sobre indícios de infração ética, o CRM só pode agir mediante denúncia formal acompanhada de documentos.
Especialistas ouvidos reforçam a necessidade de cautela diante do caso, mas não descartam responsabilizações cíveis e criminais contra os médicos envolvidos, além da possibilidade de cassação de registro profissional. A suspeita de vínculos comerciais diretos com a indústria, somada à inexistência de regularização legal da entidade, deveria acender um sinal de alerta imediato às autoridades de saúde e fiscalização.
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Marta Nobre é Editora Executiva de Notibras
