Fazendo a diferença
Covid, metanol e a prontidão do socorro
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Diante do crescente número de vítimas da contaminação de bebidas alcoólicas por metanol, fiquei profundamente reflexiva. A imprensa divulgou que mais de um terço das bebidas destiladas consumidas no Brasil são adulteradas, contaminadas ou falsificadas. É assustador pensar que isso acontece há tanto tempo e que, de certa forma, todos nós corremos risco. Ao que tudo indica, já bebíamos bebidas adulteradas há anos, mas antes não matava. Agora matou, e só então a sociedade parece ter percebido que está sendo envenenada.
É uma tragédia que revela, mais uma vez, o quanto a negligência e a falta de fiscalização custam vidas. Não é apenas sobre quem bebeu e adoeceu; é sobre o sistema que permite que produtos tóxicos circulem livremente, que prioriza o lucro e a informalidade em detrimento da vida. E também sobre o descuido cotidiano, nosso e das autoridades, com o que colocamos no corpo.
A boa notícia, dentro de tanta dor, é que ontem o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou a compra de 2.500 tratamentos de Fomepizol, o antídoto usado em casos de intoxicação por metanol. O medicamento, que até então não estava disponível no Brasil, foi adquirido de uma empresa japonesa com apoio da Organização Pan-Americana da Saúde e deve chegar esta semana. É um alento em meio à tragédia.
Mas fiquei pensando: como teria sido diferente se, durante a pandemia, tivéssemos um presidente e um ministro da saúde comprometidos com o bem-estar do povo brasileiro? Quantas vidas teriam sido salvas se a saúde pública tivesse sido tratada com a seriedade e a urgência que merece? O episódio do metanol é mais um lembrete cruel de que a omissão também mata. Devagar, silenciosamente, mas de forma devastadora.