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Química e simpatia

Lula azeita Trump contra ingerência externa nas eleições gerais de 2026

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Jr - Foto de Arquivo

Como faço de vez em quando, usei algumas horas do fim de semana para circular livremente pelas ruas da Capital do país. Na Esplanada dos Ministérios, me surpreendi com o volume de palavras e frases espalhadas pelos prédios ministeriais, a maioria com o mesmo objetivo: lembrar que o Brasil é um país democrático e soberano. Sabedor do atual contexto de divisão político-ideológica, pensei com meus botões o que poderia conter de diferente nas entrelinhas daquelas palavras soltas. Com certeza, nenhuma alusão ao Outubro Rosa.

Alguma referência ao cinema mudo dos anos 40 e 50, tempos áureos de Charles Chaplin? Obviamente que não! Fiquei a ver navios até a leitura dominical dos principais veículos nacionais de comunicação. Lendo a coluna Opinião de um jornal local, me deparei com uma carta de um leitor e, de imediato, me senti como o leigo que decifra a conversa do operador de rádio que usa o código Morse com seu superior hierárquico. Sei que o tempo não volta. Também sei que o que volta é a vontade de voltar no tempo.

Por isso, retrocedi ao início de 2022, cerca de um ano antes da vitória de Luiz Inácio sobre o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro. Naquela época, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral era o ministro Luiz Roberto Barroso, cuja maior ação foi pedir oficialmente ao governo do então presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, apoio à institucionalidade e à democracia do Brasil. Pedido feito, pedido atendido. Foram várias as manifestações norte-americanas contrárias a qualquer iniciativa capaz de melar o resultado das eleições presidenciais.

Obviamente que a interferência de Biden impediu o golpe tramado por Bolsonaro e sua trupe da maldade. Voltando às frases no topo dos prédios ministeriais, teriam elas o mesmo objetivo? Pode ser! O problema é que, tanto cá quanto lá, os tempos são outros. É verdade que o Brasil de hoje não é nem sombra daquele de 2022 e dos dias seguintes ao 8 de janeiro de 2023. As instituições funcionam sem interferências e a democracia parece definitivamente consolidada.

Também é verdade que, até as eleições, os golpistas estarão devida e merecidamente presos. Então, em tese, não há razão para preocupação. Pois é justamente nessa teórica falta de preocupação que mora o perigo. Assim como a sanha golpista não está sepultada, o atual presidente dos EUA é adepto da iniquidade e, por diversas vezes, já se manifestou favorável ao seu colega brasileiro de vilania. O abusivo tarifaço e a melodramática “ordem” para que o STF não condenasse Bolsonaro e seus asseclas não me deixam mentir. Para nossa sorte, ainda há juízes e homens fortes no Brasil. Além disso, as mentiras têm pernas curtas.

Tudo isso junto deve ter modificado a postura do mandatário norte-americano, a ponto de ele, publicamente, reconsiderar a avaliação inicial do colega brasileiro. A química e a demonstração de simpatia podem ser apenas suposições. Entretanto, certas coisas só são amargas quando a gente as engole. O Brasil e Lula da Silva não engoliram as ameaças do líder dos EUA. Portanto, ainda que o enredo do filme seja o mesmo, os protagonistas não são. É esse protagonismo que será usado como antídoto para qualquer tentativa de interferência no pleito de 2026. Ao contrário de 2022, hoje nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis. Ponto final.

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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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