Papo-surpresa
Alô, é você mesmo, presidente Lulinha?
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Depois de semanas de espera e expectativa, o presidente americano Donald Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva finalmente conversaram diretamente, sem intermediários e apenas com o auxílio dos tradutores oficiais. Ainda não foi um encontro pessoal.
Trump e Lula falaram por videoconferência e trataram de assuntos primordialmente econômicos, evitando os temas políticos que têm marcado as críticas do governo americano ao Brasil.
Lula disse a Trump que está disposto a negociar para reduzir o tarifaço imposto pela Casa Branca, e o líder dos Estados Unidos abriu espaço para que os dois países possam tratar de negócios.
Ficou acertado na conversa que o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, vão liderar as discussões de alto nível entre os dois países.
A conversa entre Lula e Trump durou cerca de 30 minutos. Mas o Palácio do Planalto considerou a conversa positiva e o início de uma reaproximação entre Brasil e Estados Unidos.
A conversa entre Trump e Lula pegou muita gente de surpresa, mas ela já estava agendada há uma semana.
Equipes da diplomacia brasileira e americana vinham negociando a ligação desde que os dois presidentes se encontraram nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, há cerca de um mês.
O Itamaraty queria que Lula e Trump tivessem uma conversa por telefone ou videochamada antes de um encontro pessoal.
Na semana passada, a Casa Branca indicou que o encontro virtual poderia acontecer nesta segunda-feira. No Planalto, a informação foi tratada em sigilo e até mesmo os assessores próximos dos ministros escalados para acompanharem os preparativos não foram informados.
Ao final, tudo ocorreu bem melhor do que o próprio governo brasileiro esperava. Apesar da retórica belicosa dos últimos meses, Trump se mostrou afável e, em alguns momentos, até carinhoso com Lula.
Os dois presidentes brincaram sobre o fato de ambos terem 79 anos e se sentirem como “garotos de 40 anos”.
Trump pediu — e recebeu — o número de telefone pessoal do presidente brasileiro e repassou seu número de celular para Lula, que por sua vez tratou de aproveitar o bom humor do presidente americano e pediu para as sanções aplicadas às autoridades brasileiras sejam revistas. Trump não se comprometeu com nenhum dos pedidos, mas não citou o nome de Bolsonaro.
Trump foi à sua rede social, a Truth Social, dizer que gostou da conversa que teve com Lula e afirmou que pretende se encontrar com Lula novamente, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.
De acordo com o presidente americano, “nossos dois países vão se sair muito bem juntos”. Mais tarde, em um encontro com a imprensa no Salão Oval da Casa Branca, Trump afirmou a jornalistas que gostou do presidente brasileiro. “Ele é um homem bom”, disse. (Metrópoles)
Apesar de alijados das negociações entre Brasil e Estados Unidos para rever as tarifas impostas pela Casa Branca, os bolsonaristas não deram o braço a torcer.
Eduardo Bolsonaro, o principal articulador para que os Estados Unidos apliquem sanções políticas e econômicas ao Brasil para livrar seu pai da prisão, afirmou que a escolha de Marco Rubio para ser o interlocutor com o governo brasileiro foi “um golaço de Trump”. De acordo com ele, Rubio “não cairá nesse papo furado do regime, de independência de um Judiciário aparelhado”. As redes passaram o dia discutindo Toni Garrido, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo. Quem olha até acha que essas são as maiores preocupações do Brasil. Quer saber? Não são. E uma pesquisa nova mostra isso claramente.
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Gilberto Motta é escritor, jornalista e professor/pesquisador das redes sociais. Texto escrito a partir da crônica do Ponto de Vista, de Pedro Dória, também jornalista no Meio.