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Planeta exausto

Queimadas sem autorização são crimes ambientais

Publicado

Autor/Imagem:
Rafaela Fernanda Lopes - Texto e Imagem

Então quer dizer que, com autorização, pode queimar? É quase engraçado, se não fosse trágico, perceber como o ser humano consegue transformar até a destruição em ato burocrático. A natureza queima do mesmo jeito, os animais fogem e morrem do mesmo jeito, o ar se torna irrespirável do mesmo jeito. Mas, com um papel assinado, tudo se torna “controlado”, “legal” e “necessário”. Parece que o fogo muda de comportamento quando vê um carimbo: queima com mais educação, destrói com limite e mata com responsabilidade.

A verdade é que essa ideia de queima controlada soa muito mais como uma forma de controlar a culpa coletiva do que o fogo em si. Criamos leis que autorizam a devastação desde que alguém importante diga que está tudo bem. É o retrato da hipocrisia ambiental. O problema nunca é o ato em si, e sim quem o comete. Quando o pequeno agricultor incendeia um terreno, é criminoso. Quando uma grande empresa pede autorização para “manejo”, é desenvolvimento. Mudam os nomes, mas as intenções continuam as mesmas.

O discurso oficial é bonito: práticas sustentáveis, renovação do solo, controle técnico do fogo. Mas a realidade é suja, densa e vem em forma de fumaça que encobre o céu e sufoca quem vive perto. Enquanto isso, políticos discursam sobre preservação, empresários tiram fotos com árvores recém-plantadas e o meio ambiente vira palco de mais uma hipocrisia legalizada.

É assustador como a lei, que deveria proteger, às vezes serve de escudo para o próprio dano. O fogo virou símbolo de purificação em um país que queima por dentro e finge que é planejamento.

Autorização não muda o fato: queimar é destruir. E não há assinatura, decreto ou protocolo capaz de convencer a natureza de que aquela destruição é oficialmente permitida. O fogo não lê licenças. Ele consome tudo, sem distinção. E, no fim, quem paga o preço é sempre o mesmo planeta que tentamos, em vão, domesticar com burocracia.

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