Favas contadas
Luiz esqueceu o Fux, se descabelou e finalmente achou sua turma
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Algumas pessoas são como nuvens. Tão logo elas somem, o dia, a semana, o mês, o ano e as eleições ficam lindos. Outras pessoas são iguais a chuchu: sem graça e não tem gosto de nada. Sou avesso ao gerundismo, mas nada me impede de afirmar que poderia estar falando da vizinha fofoqueira, da síndica tirana ou do estagiário de patriota do meu cunhado que não admite que eu me pinte de verde e amarelo apenas para torcer pela Seleção Brasileira ou pelo sucesso político e econômico do país.
Como ele não aceita meu lado verde e amarelo da pátria democrata e esvaziada de fanáticos sem nexo, decidi que a nuvem e o chuchu podem ser aplicados ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ao ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux. Como são de mandiocas diferentes, mas farinha do mesmo saco, acho desnecessário informar que a ordem pode ser alterada. Apesar do sinistro empenho do ministro, a condenação de Bolsonaro não será modificada. São favas contadas. Seria o abraço dos afogados? Não sei. O que sei que Luiz e Fux pareciam pessoas diferentes nesse processo. Luiz condenou os golpistas, mas, sabe-se lá porque, Fux os absolveu.
Quanto ao abraço, é improvável, pois, a menos que Fux ou o Luiz o visitem no quartinho de dois por dois, eles não se encontrarão tão cedo. Talvez nunca mais. Ao defender novelisticamente o ex-presidente golpista, Luiz Fux estava literalmente à procura de sua turma. Achou. Caso seja aceito na 2ª. Turma do STF, que é presidida pelo antagônico Gilmar Mendes, ele se sentará ao lado dos parceiros ideológicos Nunes Marques e André Mendonça. Já ouvi dizer que o pedido de mudança é uma estratégia para atrasar os julgamentos, consequentemente a prisão de Bolsonaro. Se for, foi um tiro no pé.
Com ou sem Fux, a 1ª. Turma vai manter a agenda de julgamentos dos réus envolvidos no fracassado golpe para impedir a posse de Lula da Silva. Presidente do colegiado, o ministro Flávio Dino confirmou para o dia 9 de dezembro o início da análise da ação relativa ao núcleo dois da trama golpista. A “estrela” desse grupo é o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, responsável pela série de fiscalizações no dia do segundo turno da eleição de 2022 em municípios da região Nordeste, nos quais Lula teve ampla margem de votos sobre Jair Bolsonaro.
Mesmo que vá para a 2ª. Turma, Fux se ofereceu para permanecer na 1ª. Turma até que o substituto de Luiz Roberto Barroso seja empossado. Dificilmente isso ocorrerá. Embora ainda não tenha sido indicado oficialmente, tudo indica que o escolhido do presidente Lula será mesmo o atual Advogado-Geral da União, Jorge Messias. Como a intenção da maioria dos ministros do STF é concluir os julgamentos da ação até dezembro, Messias só participará das próximas votações se a posse ocorrer antes disso.
Especulações, elucubrações, suspeições e manobras à parte, nada mudará no quartel de Abranches. Isolado na Turma e no Pleno do STF, Fux sabe que a condenação e a prisão em regime fechado de Jair Bolsonaro são mais cristalinas do que água direta da fonte. O fato é que Luiz Fux ficou vencido nos dois julgamentos de núcleos da trama golpista. Mesmo com as bênçãos de Nunes Marques e André Mendonça, Fux ficou marcado como único dos cinco integrantes da 1ª. Turma a votar de forma contrária à do relator do processo, Alexandre de Moraes. Ele sabe também que mudança de colegiado não vai blindá-lo totalmente dos desafetos no tribunal. Como sabiamente diz o povo, quem procura, acha.