Fuligem, um romance policial que prende o leitor

Fuligem, de E.E. Postali (Editora Caligo, 2021), é daqueles romances policiais que nos prendem já nas primeiras páginas. Os personagens são tão bem construídos que, em pouco tempo, sentimos vontade de sentar no boteco porto-alegrense que frequentam e dividir uma rodada com eles. E isso não é apenas charme narrativo: é técnica e sensibilidade.

Evelyn E. Postali se afirma como uma das autoras mais relevantes da ficção policial contemporânea no Brasil. Com um enredo elegantemente alinhavado, ela não deixa pontas soltas — e, melhor ainda, convida o leitor a participar ativamente da investigação. Diferente das clássicas tramas de Agatha Christie, em que o culpado pode surgir como um truque final, aqui as pistas estão espalhadas ao nosso alcance. Cabe a nós juntá-las.

Um dos maiores méritos do livro está na construção humanizada dos personagens. Policial, jornalista, gente comum: não há caricaturas. Há pessoas possíveis, com virtudes, falhas e contradições que reconhecemos do lado de cá da página. É assim que Postali cria empatia — e tensão.

A comparação com Leonardo Padura não é gratuita. Assim como o mestre cubano, admirador confesso de Rubem Fonseca, Postali equilibra linguagem direta com tramas instigantes, alcançando sofisticação sem hermetismo. A prosa flui, sem perder densidade.

Fuligem se impõe entre os melhores romances policiais que li nos últimos anos. É ágil, inteligente e emocionalmente honesto. Se o gênero anda carente de frescor por aqui, Evelyn E. Postali chega com fôlego de sobra.

Para quem aprecia boas investigações, personagens tridimensionais e narrativa afiada, trata-se de leitura obrigatória. E, pelo que demonstra neste livro, E.E. Postali caminha firme para ocupar lugar de destaque entre os grandes nomes do policial brasileiro.

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Daniel Barros é escritor.