Discurso negacionista
Castro resgata tempo de cantor com risco de virar oposto de Morengueira
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Descaradamente candidato a candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro, o go-go-go-governador do Rio de Janeiro, Clá-Clá-Cláudio Ca-Ca-Castro, está próximo da desincompatibilização, isto é, do prazo limite para deixar o Palácio Guanabara se quiser concorrer a uma vaga no Parlamento federal. Embora saiba que não o querem, ele quer. Daí ter seguido o exemplo do mestre da covardia e da malvadeza, Jair Bolsonaro, e ordenado a matança nos complexos da Penha e do Alemão no meio de sua administração. Poderia ter sido no início ou na saída, mas ele preferiu escancarar seu prazer pela morte no meio. É melhor que dá voto. Só que não!
Foram cerca de 120 mortos na matança urbana dessa terça-feira (28). A diferença para aquela do período negacionista da Covid-19 foi apenas numérica. Tanto em uma quanto em outra, Ja-Ja-Jair e Ca-Ca-Castro tiveram a certeza de que não são coveiros. São amantes profissionais da carnificina, formados nas senzalas da caserna e no PL de Valdemar Costa Neto e travestidos de presidente da República e de governador, ambos surgidos a partir da segunda maior metrópole do país. Não podemos ser hipócritas e negar a máxima de que bandido bom é bom é morto.
Pode ser verdade, mas a mentira de Ca-Ca-Castro é que, à exceção dos quatro policiais atingidos, todos os mortos nas duas comunidades são bandidos. Até prova em contrário, talvez sejam. Ou não. Resumindo, a guerra civil que a população carioca assiste diariamente virou massacre, obra de um gestor nitidamente preguiçoso, do tipo que prefere matar a ter de oferecer segurança à sociedade. Os 120 mortos da semana se somam às dezenas, centenas, milhares de outros óbitos de supostos bandidos anunciados anteriormente por Ca-Ca-Castro e seu staff de segurança às avessas.
Digo isso porque, pela ausência do Estado bolsonarista nas comunidades, morrem 130 “bandidos” e nascem outros 130, 260, 1.200 que, por absoluta falta de oportunidade, tendem a aderir ao chamamento do crime organizado. Ou seja, se a ideia do go-go-governador era combater o Comando Vermelho, não conseguiu. A facção, uma das mais perigosas do Estado e do Brasil, parece erva daninha. Cortam e ela, no dia seguinte, brota ainda mais viçosa e com mais força agregadora. Quanto ao go-go-governador, ele provavelmente será indicado por Benjamin Netanyahu ao Prêmio Nobel da Paz.
Sem nada a perder, os líderes do Comando Vermelho continuarão rindo da cara pálida e sem lastro de Ca-Ca-Castro ou de qualquer outro mandatário que preferir matar a solucionar de vez o problema da segurança no Rio de Janeiro. Está provado que subir morros e invadir comunidades para esculachar moradores e matar não resolve. É o mesmo que enxugar gelo ou engarrafar fumaça. Se fixar nas localidades de risco seria o ideal, desde que os policiais indicados não tomassem como primeira medida se associar ao tráfico ou à milícia. Gestor mequetrefe, Ca-Ca-Castro não pensou duas vezes ao aderir ao discurso negacionista de colegas governadores.
Também candidatos a candidatos, Ronaldo Caiado (GO), Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG) e Ratinho Junior (PR), entre outros, bateram pé contra a PEC da Segurança Pública proposta pelo governo federal. A ideia do Lula 3 era integrar e fortalecer todas as polícias do país no combate ao crime organizado. Com medo do provável sucesso da iniciativa, os fantasmas da direita bolsonarista optaram por beber na fonte da barbárie do chefe carniceiro. Tanto que, no day after, quase em uníssono, os cinco regurgitam em alto e bom som que, entre os mais de 120 mortos, as vítimas foram apenas os quatro policiais.
Ca-Ca-Castro não deve ter sido informado que os familiares de todos os mortos, sejam eles bandidos, traficantes, milicianos ou agentes da cidade sem lei, são eleitores. Se depender da Penha e do Alemão, ele voltará ao pó preto de onde saiu. Um dia eu conto. Faltou a ele a lembrança de Moreira da Silva. E simplesmente fez uma lambança em um filme de terror que começa com um menino entregando um telegrama enviado por seu mito. Ele garante que matou. Mas o eleitor garante que ele está politicamente morto.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978