Espécie em extinção
Loucos e desvairados, os românticos pedem perdão até quando acertam
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Estilo de época marcado pela subjetividade, o romantismo se mantém vivo por pura valentia dos românticos. Os poetas de tempos passados diziam que romantismo é como uma prova subjetiva. Por isso, insisto em pecar pelo excesso. É a minha penitência sinfônica, pois sofro de romantismo mórbido. Infelizmente, no Brasil do pós mãos dadas, do cavalheirismo e de serenatas ao luar, nos resta brindar à safadeza, pois o romantismo vem perdendo o valor.
Não para os que, como eu, não têm medo de amar. Admito que meus hormônios andam muito aflorados, mas ainda prezo pelo baile das cores. Amor, paz, igualdade e romantismo. Não estou dizendo I’m not fuck you, mas prefiro ser empurrada para frente romantizando o vocabulário com amor, paz, igualdade e muitas surpresas. E o que é ser romântico(a)? A resposta está na poesia do compositor mineiro Vander Lee.
Prematuramente falecido, enquanto vivo foi o que ele pregou. Ouvindo suas composições ouvi, por exemplo, que os românticos são lindos, apesar de loucos e desvairados. São tipos limpos e pirados, mas capazes de passar noites em claro chorando pela oportunidade deliberadamente perdida em uma balada de grilos. Membros de trupes “populares que vivem pelos bares”, normalmente eles “amam sem vergonha e sem juízo”.
Esses tipos pensam muito e escrevem pouco, embora saibam que a vida é como um livro inacabado. Conforme avaliação abalizada do inesperado poeta Marrone, “cada página é como um dia vivido, o qual não podemos reescrever e nem apagar”. Assim são os românticos. Erram, se desculpam, erram novamente e, sem preocupação com a pieguice, mesmo certos acabam pedindo perdão.
Corajosos e destemidos, não costumam fugir da conjugação do verbo amar e não têm “medo de outra desilusão”. Com a naturalidade de um paquiderme passeando no bosque, eles parecem seguir os ensinamentos do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, para quem o tempo passa e a vida vai ficando cada vez mais dura perto do topo.
Numerosos nos anos 60 e 70, eles são poucos nos dias de hoje. Entretanto, como nasceram em uma década perfeita de um século em extinção, experimentam toda a essência do romantismo. Por isso, sonham sempre com o paraíso florido. Daí a máxima de que romântico é mesmo uma espécie em extinção. Que pena!
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Sonja Tavares é Editora de Política de Notibras