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O Clube dos Onipotentes (Final)

Onde se abraça político, todo mundo tem um preço

Publicado

Autor/Imagem:
Ray Cunha - Foto de Arquivo

Jéssica deixou a mão de Boca Mole sobre a dela; com a outra mão, o asno limpou um ponto de baba no canto da boca. A deputada distrital mexeu-se, virando-se para um e para outro, exibindo parte generosa do colo. Boca Mole tirou a mão de sobre a dela, arrumou-se melhor na poltrona, passou o lenço nos beiços e guardou-o.

Se não soubesse o que é autodisciplina não seria um dos homens mais ricos do país, e, depois, poderia ter quem ele quisesse; podia pagar por qualquer um; afinal, todo mundo tem um preço. Apesar de que Jéssica Rabbit tirava-o do prumo. Misturem Brigitte Bardot e Marilyn Monroe e terão Jéssica Rabbit, na cabeça do bilionário; melhor ainda, era a própria Jéssica Rabbit, a do desenho.

O telefone celular do senador começou a vibrar. Ele pediu que continuassem à vontade enquanto atendia à chamada, explicando que aguardava por ela. Atendeu-a indo até uma poltrona no amplo salão, ricamente decorado. Conversou durante uns dois minutos e retornou à mesa.

– Mais uma rodada de licor de jenipapo? – perguntou. Os três olharam-se. Eram 13 horas em ponto.

– Eu já estou é com fome – disse Boca Mole, com água na boca.

– Por que não almoçamos aqui? – Patarrão convidou.

– Estão me esperando em casa – disse Boca Mole.

– Preciso almoçar em casa também – disse Jéssica Rabitt.

Zumbi pareceu avaliar um pouco. Não perdia uma boca livre.

– Não! Eu, realmente, preciso ir! – disse, quase em um lamento.

– Então está tudo certo! Estamos entendidos! – disse o senador.

– Sim! Hoje à tarde o dinheiro estará na conta que você me deu! – disse Boca Mole.

– É, hoje à tarde todos nós vamos fazer a transferência! – disse Jéssica Rabbit, levantando-se. Realmente, era de parar o trânsito.

Todos se levantaram, inclusive Lampião, e Patarrão conduziu os visitantes até a porta.

Quando saíam, Jessica atrasou-se e puxou o senador de lado.

– Descobri um mimo para você que vai deixar você babando – cochichou no ouvido do porco. – Você terá a vitela mais linda que existe para realizar seus sonhos mais ousados.

O senador salivou.

Sozinho, agora, ligou para a pessoa com quem havia falado instantes atrás. Era sua mulher, que lhe fazia marcação cerrada; tornara-se paranoica e Jéssica Rabbit era seu maior pesadelo. Desenvolvera olfato quase canino e cheirava as roupas do seu fogoso marido, principalmente a cueca, em busca de indícios que pudessem justificar sua paranoia, mas era ela a investigada, pois o senador procurava se antecipar a cada passo da sua esposa, criando, para isso, um verdadeiro departamento de inteligência dentro da sua própria casa. Ouviu a voz. Uma sombra de desgosto perpassou-lhe o focinho. A megera, como ele a chamava mentalmente, era seu alicerce e terror. Herdeira de uma das maiores fortunas do país, conheceram-se quando ela começou a tomar aulas de voo com o porco, que era o instrutor; não demorou para que começassem a transar a bordo do monomotor. Casaram-se e ela começou a bancar o futuro senador, de quem se tornara acionista majoritária em quase todos os investimentos do marido. Engordara muito depois que casou e isso a tornou ainda mais alarmada.

O senador entrou no seu carrão às 13h15. Minutos depois, cruzava o Lago pela Ponte JK, na límpida tarde brasiliense.

……….

Fim

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